Golpe de Estado
fez regredir todos os indicadores – Analista político guineense
Bissau,
11 Abr. (Lusa/ANG) - O golpe de Estado de há um ano fez regredir todos os
indicadores da Guiné-Bissau, incluindo o respeito pelos direitos humanos, dizem
analistas ouvidos pela Lusa, um deles a defender mesmo uma “administração
internacional” para salvar o país.
“Tem de haver uma administração internacional e tem de começar desde já, com a organização das eleições, tem de começar a intervir e com uma intervenção pró-ativa”, defende o analista Rui Landim, a propósito do primeiro aniversário do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, que derrubou o poder legítimo.
Porque o país “piorou” em todos os domínios, defende o
analista que seja a comunidade internacional a “intervir com mais afinco” e que
seja o Conselho de Segurança das Nações Unidas a marcar a data das eleições e a
ONU a apoiar depois “uma nova administração internacional, para se reconstituir
um Estado que não existe”.
“Os ministros que tratem dos aspectos políticos, os
aspectos técnicos e administrativos devem de ser decididos pela comunidade
internacional. Que não seja permitido que qualquer Primeiro-ministro, qualquer
ministro, nomeie parentes, filhos e tios”, diz Rui Landim, para quem “um Estado
muito partidarizado enfraquece as instituições democráticas”.
Até agora, as nomeações familiares ou partidárias
(mesmo antes do golpe) “destruíram as instituições”, afirma o analista,
acrescentando: “há golpes de Estado militares mas há golpes de Estado que se
fizeram durante muito tempo, golpes nas instituições, que são relegadas para
segundo ou terceiro plano e são as vontades das pessoas que imperam”.
No entender de Rui Landim, “é sempre mau” uma rotura da
ordem constitucional, embora por vezes seja “a última saída” (exemplo do 25 de
Abril em Portugal). Mas no caso da Guiné-Bissau, o último golpe militar, e
outros anteriores, desde a guerra de 1998, só têm feito regredir o país.
Não foi diferente o de 12 de Abril: “todos os
indicadores macroeconómicos e sociais mostram que há uma grande regressão”,
para já não falar “do respeito pelos direitos humanos”, que na Guiné-Bissau
“caiu grandemente”, avisa Rui Landim.
Fodé Mané, antigo director da Faculdade de Direito de
Bissau, explica de outra forma uma ideia quase idêntica. Antes do golpe de há
um ano já havia “turbulência política” e havia manifestações constantes contra
má governação e mau funcionamento da Justiça, lembra.
“Quando houve o golpe de Estado em que saíram
vencedores os que contestavam o regime esperava-se que fizessem algo diferente.
Será que temos melhor Justiça? Creio que não”, diz o analista, considerando que
ao contrário houve reformas que pararam e o Ministério Público foi politizado,
pelo que houve nessa matéria “um falhanço total”.
“O golpe tinha como um dos pressupostos que havia
perseguições e instabilidade. Não deixou de haver mortes depois do golpe e
continuamos com restrições à liberdade, como a de informação, de expressão, de
manifestação e mesmo até de circulação”, acusa Fodé Mané, que critica ainda não
haver um calendário para as eleições nem um processo de reconciliação nacional,
algo que estava a ser preparado antes do golpe de há um ano.
Neste último ano, sintetiza Fodé Mané, “o país não se
encontrou” e houve “retrocesso” em todos os indicadores, das exportações à
produtividade. E aumentaram as tensões entre as várias instituições, como o
Parlamento, o Governo ou a Presidência, a que se juntou uma diplomacia débil,
de confronto, que redundou “num fracasso total”.
E no poder estão as pessoas que se manifestaram
semanalmente no passado e que hoje proíbem as marchas e exercem censura na
comunicação social estatal, acrescenta.
O analista defende que se realizem eleições ainda este
ano, como também Rui Landim, com ambos a criticar que não haja já uma agenda
com datas marcadas. Segundo Rui Landim, não há uma perspectiva de esperança
para a Guiné-Bissau e o país vive sim “num clima nebuloso”.Lusa/ANG
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