Navio de
migrantes fura bloqueio italiano
Bissau, 27 jun 19 (ANG) - O navio humanitário Sea-Watch forçou
nesta quarta-feira (26) o bloqueio das águas territoriais italianas, apesar das
ameaças de Matteo Salvini, para tentar desembarcar na ilha de Lampedusa os 42
imigrantes presos a bordo por duas semanas.
"Decidi entrar no porto de Lampedusa, sei o que estou
arriscando, mas os 42 que náufragos estão exaustos e eu os levo para um local
seguro", disse no Twitter a jovem capitã alemã do navio, Carola Rackete,
31.
Com este ato, Carola desafia o ministro do Interior e número
dois do governo italiano, Matteo Salvini, de extrema direita.
"Em 14 dias, nenhuma solução política ou legal foi
possível, a Europa nos abandonou", acrescentou Sea-Watch, uma ONG alemã
cujo navio homônimo navega com a bandeira holandesa.
Depois de navegar por dez dias ao longo da costa italiana, o
navio cruzou a fronteira marítima ao meio-dia e parou no meio da tarde, em
frente ao porto da ilha. Policiais da guarda costeira e da alfândega estavam
bem próximos.
"Usaremos todos os meios democraticamente permitidos para
bloquear esse insulto à lei", respondeu Matteo Salvini em um vídeo ao vivo
no Facebook.
Salvini denunciou o "jogo político sórdido" da ONG, mas também a indiferença exibida pelos Países Baixos e pela Alemanha. Os governos de Berlim e Haia "responderão", segundo ele.
Salvini denunciou o "jogo político sórdido" da ONG, mas também a indiferença exibida pelos Países Baixos e pela Alemanha. Os governos de Berlim e Haia "responderão", segundo ele.
A jovem capitã de 31 anos e os responsáveis pelo Sea-Watch
poderão agora enfrentrar um processo por auxílio à imigração ilegal, além de
correrem o risco de terem o navio apreendido e pagarem uma multa de €50.000, de
acordo com o recente “decreto de segurança bis” de Salvini. .
De acordo com estatísticas do Ministério do Interior, mais de
400 migrantes desembarcaram na Itália nas últimas duas semanas, muitos dos
quais chegaram em pequenas embarcações em Lampedusa.
Na terça-feira, a Corte Européia de Direitos Humanos, tomada
pela ONG alemã, recusou-se a intervir com urgência, pedindo à Itália que
"continuasse a prestar toda a assistência necessária" às pessoas
vulneráveis a bordo.
Dos 53 migrantes resgatados em 12 de junho pelo Sea-Watch da
Líbia, a Itália já aceitou o desembarque de 11 pessoas vulneráveis (crianças,
mulheres, doentes).
No continente, dezenas de cidades alemãs disseram que estavam
prontos para acolher os migrantes, e o bispo de Turim (norte da Itália), Cesare
Noviglia, anunciou segunda-feira que sua diocese poderia assumir o comando.
O sacerdote de Lampedusa, Carmelo La Magra, acampou durante
vários dias nos degraus de sua igreja para exigir o desembarque de migrantes.
Nas eleições europeias de maio, no entanto, a Liga, partido de Salvini,
conquistou 45% dos votos na ilha.
Desde a chegada do governo populista ao poder na Itália, em
junho de 2018, houve sucessivas crises ao redor migrantes presos em navios de
salvamento até que um acordo de distribuição entre vários países europeus os
permitisse desembarcar.
Em janeiro, 32 migrantes resgatados pelo Sea-Watch permaneceram
presos por um recorde de 18 dias a bordo antes de poderem descer em Malta.
"É grave que a capitã não tenha outra escolha que não
honrar o seu senso de responsabilidade ao preço de consequências
pessoais", reagiu Carlotta Sami, porta-voz do Alto Comissariado da ONU
para os Refugiados (ACNUR ) na Itália.
"O ACNUR pede revisão do decreto segurança bis e a
organização de um sistema de resgate e desembarque. A criminalização das ONGs
deve acabar", acrescentou ela, enquanto as organizações internacionais têm
repetido estes dias que não foi possível enviar os migrantes de volta ao
caos líbio. ANG/RFI/AFP
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