terça-feira, 5 de julho de 2016

França/terrorismo


Parlamento acusa serviços de informação de terem falhado

Bissau, 05 Jul 16 (ANG) – A Comissão parlamentar de inquérito aos atentados de 2015 culpa a grande máquina burocrática pelas falhas de informação e critica a eficácia do estado de emergência.

A França deve fazer reformas profundas na organização dos seus serviços de informação à luz das falhas que permitiram os atentados de Janeiro e Novembro de 2015, eliminando agências redundantes, racionalizando os seus serviços e criando uma agência nacional antiterrorismo ao estilo do que acontece hoje nos Estados Unidos, de acordo com as recomendações do relatório de uma comissão parlamentar de inquérito, publicadas na manhã desta terça-feira.

Há cinco meses que esta comissão de inquérito avalia a melhor maneira de reorganizar os serviços de informação franceses, uma grande máquina burocrática de diferentes agências e lideranças que muitos especialistas culpam pelas falhas que abriram caminho aos ataques contra o jornal satírio Charlie Hebdo e um supermercado kosher, em Janeiro, e à grande operação terrorista do grupo Estado Islâmico de Novembro em Paris, que matou 130 pessoas.  

A avaliação terminou num relatório de 300 páginas, elaborado sobretudo através de entrevistas com quatro ministros e directores dos serviços de informação. Uma das suas propostas mais relevantes é a de deslocar a responsabilidade da luta antiterrorismo do Ministério do Interior para a jurisdição do primeiro-ministro, que se deve tornar o chefe de uma nova agência nacional que coordenará todos os outros órgãos.

“Face ao desafio do terrorismo internacional, é necessário haver ambições mais altas do que as postas em prática pelo Ministério do Interior”, lê-se no relatório, citado pelo Le Monde, argumentando que os ataques de Novembro revelaram não só a incapacidade de descobrir um atentado planeado no estrangeiro — neste caso, na Bélgica — mas também “uma falha dos serviços de informação interiores, visto que [os ataques] se produziram no nosso solo.”

O relatório ataca também uma das mais conhecidas disfuncionalidades dos serviços de informação franceses: a vastidão da base de dados de possíveis ameaças terroristas. 

Sabe-se que quase todos os terroristas envolvidos nos ataques de Janeiro e Novembro eram já conhecidos das autoridades francesas e que o seu nome estava arquivado nas agora célebres “fichas S”, onde estão pessoas que se pensa que podem ser uma ameaça à segurança nacional.

Hoje existem mais de dez mil “fichas S” nas bases de dados dos serviços de informação franceses — num universo de 400 mil registos de outro tipo de ameaças — e nem todas podem ser consultadas pelos diferentes órgãos. “A comissão de inquérito passou por grandes dificuldades para obter o nome dos indivíduos investigados pelos diferentes serviços na luta antiterrorismo. A razão é simples: não existe um ficheiro consolidado”, explica o relatório.

Fora da organização dos serviços de informação, o relatório da comissão parlamentar de inquérito atinge também a decisão do Governo francês em prolongar o estado de emergência, ainda em vigor desde os atentados de Novembro. “O estado de emergência teve efeito, mas parece ter-se reduzido rapidamente”, argumenta o relator socialista Sébastien Pietrasanta. 

ANG/Publico

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