Afonso Dhlakama prolonga as tréguas
Bissau, 05 Mai 17
(ANG) -Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO, maior força política na oposição
de Moçambique, anunciou ontem o prolongamento da trégua no país por tempo
indeterminado.
“Esta trégua
será diferente daquelas tréguas que já pude anunciar: estou agora a anunciar a
trégua sem prazo”, referiu a partir da Gorongosa numa teleconferência na sede
da RENAMO, em Maputo.
A decisão é o resultado de conversas mantidas com o Presidente de Moçambique,
Filipe Nyusi, e que a paz efectiva após a trégua está dependente da assinatura
de um acordo, explicou.
O líder da RENAMO revelou que a exigência do seu partido de nomear
governadores provinciais “já não é prioridade” e defendeu a eleição destes
dirigentes nas eleições gerais de 2019.
“[A exigência de nomeação de governadores provinciais] não é descartada, mas já
não é prioritária. Não posso dizer que está descartada ou esquecida, porque
havia de confundir os militantes, simpatizantes e mesmo o povo”, afirmou
Afonso Dhlakama.
A exigência da RENAMO de governar nas seis províncias onde reivindica vitória
nas eleições gerais de 2014 e a recusa do Governo Frelimo foi a principal razão
para o retorno do país ao à tensão política e militar.
Afonso Dhlakama admitira na véspera conceder uma trégua definitiva até à
assinatura de um terceiro acordo de paz entre o Governo da FRELIMO e o seu
partido, que desde Dezembro estão envolvidos em negociações directas de
pacificação de Moçambique.
“A trégua que dei está a andar, mas ao invés de continuarmos a dar 60 dias
renováveis, agora penso que posso dar a trégua sem prazo”, disse numa
entrevista telefónica concedida na quarta-feira, na qual alertou que a trégua
definitiva “não será o fim da guerra, que só será declarada com a assinatura de
um acordo entre o Governo e a RENAMO”.
Um dos passos visíveis do avanço das negociações é a retirada das forças
governamentais da Gorongosa, processo que deve ser finalizado até Junho,
afirmou.
Dhlakama acrescentou que grupos do Governo e da RENAMO chegam hoje a Gorongosa
para dar início ao funcionamento dos centros de verificação e controlo da
pacificação de Moçambique.
Um dos centros vai ser instalado na região de maior movimentação da RENAMO, com
oito pessoas, sendo quatro de cada lado, enquanto o outro vai funcionar em
Maputo com duas pessoas do Governo e duas da RENAMO.
O presidente da RENAMO negou que haja “secretismo nas negociações de paz ” e
afirmou que o Presidente Filipe Nyusi e ele “estão a preservar apenas ideias e
passos para serem amadurecidos, que devem culminar num acordo sem lacunas como
os anteriores dois acordos assinados”.
Afonso Dhlakama já havia admitido o anúncio de uma trégua definitiva na semana
passada, numa teleconferência com quadros da RENAMO na qual os aconselhou a
pautarem-se por acções que promovam a paz, no âmbito do processo de diálogo
político em curso no país. Também pediu para se livrarem “de rancores contra adversários
políticos, governantes e Forças de Defesa e Segurança” e prometeu anunciar uma
paz efectiva “se houver colaboração do Governo”.
As declarações do presidente da RENAMO foram feitas depois de as Forças
de Defesa e Segurança moçambicanas começarem a sair da Gorongosa por ordem do
Presidente Filipe Nyusi, na qualidade de Comandante-em-Chefe.
Além de anunciar a retirada das posições que os militares ainda ocupam no
bastião tradicional da RENAMO e actual paradeiro de Afonso Dhlakama, o
Presidente moçambicano anunciou a criação de dois centros de verificação dos
assuntos militares, no âmbito do diálogo político em curso para o alcance da
paz efectiva no país.
Estes centros vão funcionar nas zonas centro e sul do país integrando membros
da RENAMO e do Governo, e têm a missão de verificar e monitorizar possíveis
casos que afectam a paz no país.
Antes de Afonso Dhlakama anunciar a trégua definitiva, os bispos católicos
moçambicanos saudaram o Chefe de Estado Filipe Nyusi e o líder do maior partido
da oposição de Moçambique pelos passos que estão a ser dados no diálogo, com
vista ao alcance de uma paz efectiva.
ANG/JA
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