“A estratégia para conter violência intercomunitária é inadequada e ilegal”diz Amnistia
Bissau, 30 Jan 18 (ANG) – A estratégia das
autoridades nigerianas para conter a espiral de violência intercomunitária no
país tem consistido no bombardeamento de aldeias e vilas, denunciou hoje a
Amnistia Internacional, frisando que tal resposta é inadequada e, em alguns
casos, ilegal.
Bandeira da Nigéria |
Desde 2017, a Nigéria é cenário de violentos
confrontos entre criadores de gado, na maioria muçulmanos, e agricultores
cristãos, por causa de uma nova lei que proíbe que os criadores de gado nómadas
se desloquem dentro do estado de Benue, no centro do país.
Os confrontos, que alastraram a outros estados
nigerianos (Adamawa, Taraba, Ondo e Kaduna), fizeram pelo menos 168 mortos só
no mês corrente, segundo um comunicado da organização não-governamental (ONG)
internacional de defesa dos direitos humanos. Em 2017, o número total de mortos
foi de 549.
A Amnistia Internacional (AI) informou agora que as
autoridades nigerianas têm levado a cabo raides aéreos sobre vilas e aldeias
para tentar conter a espiral de violência intercomunitária, denunciando que
pelo menos 35 pessoas já perderam a vida e que muitas outras ficaram feridas na
sequência destes ataques militares.
“A resposta das autoridades da Nigéria à violência
intercomunitária é totalmente inadequada, demasiado lenta e ineficaz e, em
alguns casos, ilegal”, afirmou a AI.
“O governo deve mudar totalmente a sua resposta a
estes confrontos mortíferos para evitar que esta crise fique fora de controlo.
Precisam de investigar e de levar os suspeitos à justiça”, disse o director da
Amnistia Internacional da Nigéria, Osai Ojigho, citado na nota informativa da
ONG.
O representante recordou que centenas de pessoas
perderam a vida em 2017 na sequência destes confrontos intercomunitários,
afirmando que o governo de Abuja “ainda não fez o suficiente” para proteger as
comunidades e que os responsáveis por estas mortes continuam impunes.
“Em alguns casos, as agências de segurança da Nigéria
responderam à violência intercomunitária com o uso de força excessiva ou
ilegal, o que resultou em mais mortes e destruição”, prosseguiu o mesmo
responsável.
No comunicado divulgado hoje, a AI relatou uma
situação ocorrida a 04 de Dezembro do ano passado, quando a força aérea
nigeriana enviou aviões de combate para disparar ‘rockets’ sobre aldeias como
um sinal de aviso e para tentar travar os incidentes intercomunitários.
As manobras militares ocorreram numa altura em que
centenas de criadores de gado atacaram pelo menos cinco aldeias no estado de
Adamawa (no nordeste da Nigéria) para vingar a morte de pelo menos 51 membros
da sua comunidade, nomeadamente crianças, em Novembro na localidade de Kikan.
Uma equipa da AI visitou as localidades visadas pelos
raides aéreos das forças nigerianas e conseguiu reunir o testemunho de vários
habitantes, que descreveram como foram atacados por aviões de combate e
helicópteros militares quando tentavam fugir.
“Lançar ataques aéreos não é um método legítimo de
aplicação da lei segundo os padrões de nenhuma pessoa. Tal uso imprudente de
força mortal é ilegal, ultrajante e revela o desprezo escandaloso dos militares
nigerianos pelas vidas daqueles que supostamente deviam proteger”, defendeu
Osai Ojigho.
O director de relações públicas da força aérea
nigeriana, Olatokunbo Adesanya, descreveu na altura, em declarações aos ‘media’
locais, os raides aéreos sobre certas localidades como “tiros de aviso e não
tiros para matar”.
O representante disse na mesma ocasião que os raides
tinham tido “um efeito positivo”. Duas semanas depois, o mesmo responsável
acrescentou que os criadores de gado tinham disparado contra os aparelhos das
forças nigerianas.
Perante tal situação, a AI pediu hoje à força aérea da
Nigéria – que recebeu intensa formação das forças militares britânicas e
norte-americanas nos últimos anos, segundo frisou a ONG – para entregar imagens
dos raides aéreos e todas as informações consideradas como relevantes às
autoridades, nomeadamente ao Ministério Público e ao Ministério da Justiça,
para futura investigação.
“Isto é uma força ilegal e excessiva numa escala
catastrófica. É mais um outro exemplo trágico, em que as forças armadas da
Nigéria aplicam tácticas militares mortíferas em situações de aplicação da
lei”, reforçou Osai Ojigho.
“As autoridades nigerianas devem investigar estes
ataques e, nas situações que as investigações indicarem responsabilidade
criminal, devem processar os responsáveis e levá-los à justiça”, concluiu o
representante.
Os raides aéreos ocorreram nas localidades de Lawaru,
Dong, Kodomti, Shafaron e de Nzuruwei, locais onde a AI entrevistou um total de
15 testemunhas e constatou a destruição de pelo menos 3.000 casas.
ANG/Inforpress/Lusa
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