Bissau,
29 jan 19 (ANG) - Uma unidade paramilitar sul-africana que operou durante o
"Apartheid" foi concebida para infectar com sida a população negra do
país e em Moçambique, segundo um documentário cujo teor foi divulgado hoje pelo
jornal britânico Independent.
Antigos elementos do grupo terão actuado a mando de
Keith Maxwell, o excêntrico líder do sombrio Instituto Sul-Africano de
Investigação Marítima, que defendia um país de maioria branca, onde "os
excessos dos anos 60,70 e 80 não teriam lugar no mundo pós-sida".
O líder do grupo é acusado de se ter apresentado como
um médico filantropo para dar falsas injecções aos cidadãos sul-africanos
negros.
"Uma sombria unidade paramilitar da era
'Apartheid' foi planeada para infectar a população negra", escreve hoje o
jornal, a propósito do documentário intitulado "Cold Case
Hammarskjold".
Um ex-elemento do instituto (SAIMR, na sigla em
inglês) disse que o grupo "espalhou o vírus" a mando de Maxwell.
Falando aos autores daquele documentário, o ex-oficial
dos serviços secretos do instituto Alexandre Jones disse que Maxwell, que tinha
poucas qualificações médicas, se estabeleceu como médico tratando negros pobres
sul-africanos.
"Qual a maneira mais fácil de obter uma cobaia,
quando se vive num regime de 'Apartheid'?", afirmou Jones para o
documentário, que se estreia este fim-de-semana no Festival Sundance Film.
"As pessoas negras não tinham direitos,
precisavam de cuidados médicos. Há um 'filantropo' branco que chega e diz 'vou
abrir estas clínicas e tratar-vos' e, no entanto, é apenas um lobo com pele de
cordeiro", relatou.
Os autores do documentário encontraram uma placa
anunciando os serviços de um "Dr. Maxwell" em Putfontein, perto de Joanesburgo,
e falaram com habitantes locais, que se lembram de um homem que tinha um
monopólio virtual na área da saúde, apesar de oferecer estranhos tratamentos.
Jones disse que o SAIMR também actuou fora da África
do Sul, referindo no documentário: "Estivemos envolvidos em Moçambique,
espalhando o vírus da sida através de condições clínicas".
Acredita-se que o SAIRM tinha ligações secretas com as
forças armadas do "Apartheid" na África do Sul.
Foi também acusado de trabalhar com os serviços
secretos britânicos e a norte-americana CIA para assassinar o secretário-geral
das Nações Unidas Dag Hammarskjold.
O secretário-geral de nacionalidade sueca, um apoiante
da descolonização, morreu em circunstâncias misteriosas quando o avião em que
seguia explodiu antes de aterrar na Zâmbia, em 1961.
Tentava mediar a paz entre o recém-independente Congo
e a província separatista de Katanga.
Em 1998, a Comissão de Verdade e Reconciliação pós
"Apartheid" da África do Sul revelou ter encontrado cartas em papel
timbrado do SAIMR que pareciam sugerir que os serviços secretos britânicos e a
CIA (norte-americanos) tinham concordado que "Hammarskjold devia ser
removido", escreve o Independent.
ANG/Angop
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