Sociedade/Diáspora guineense reúne
centenas em Lisboa em manifestação contra situação no país
Bissau,13 Jul 20(ANG) - Cerca de cinco
centenas de cidadãos guineenses a viver em Portugal participaram no sábado numa manifestação, em Lisboa, de protestos contra a atual situação política na Guiné-Bissau.Os manifestantes pediram
o respeito pela Constituição e pelos
valores democráticos neste país lusófono.
"Abaixo Governo Golpista",
"Terrorista é a Ditadura que mata", "Quem adormece a democracia,
acorda a ditadura" ou "Vamos todos lutar por uma Guiné melhor"
eram algumas das frases escritas nos vários cartazes exibidos pelos
manifestantes, a grande maioria com máscaras de proteção individual por causa
da atual pandemia de covid-19, mas, em alguns momentos do protesto, longe de
cumprir o necessário distanciamento físico.
"Estou muito descontente com o que
se está a passar na Guiné-Bissau neste momento. Porque estamos a perder a
liberdade cada vez mais. Quem critica, quem é da oposição, é amordaçado, é
atacado", disse, em declarações à agência Lusa, Mariano Quade, um dos
organizadores do protesto.
"Esta manifestação é para
demonstrar isso e para demonstrar que queremos que pelo menos os políticos deem
o exemplo. Que sigam a Constituição, que respeitem a lei magna do país, que diz
que todos os organismos ou que todos os órgãos soberanos devem ter espaço para
se expressar, para haver verdadeiramente uma democracia, uma sociedade
democrática", reforçou o ativista guineense.
A Guiné-Bissau está a viver um período
de especial tensão política desde o início do ano, depois de a Comissão
Nacional de Eleições ter declarado Umaro Sissoco Embaló vencedor da segunda
volta das eleições presidenciais.
O candidato dado como derrotado,
Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano para a Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC), não reconheceu os resultados eleitorais, alegando
que houve fraude e meteu um recurso de contencioso eleitoral no Supremo
Tribunal de Justiça, que não tomou, até à data, qualquer decisão.
Umaro Sissoco Embaló autoproclamou-se
Presidente da Guiné-Bissau em fevereiro e acabou por ser reconhecido como
vencedor das eleições pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO), que tem mediado a crise política no país, e pela ONU e restantes
parceiros internacionais.
Após ter tomado posse, o chefe de Estado
demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, saído das eleições legislativas
de 2019 ganhas pelo PAIGC, e nomeou um outro liderado por Nuno Nabian, líder da
Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que
assumiu o poder com o apoio das forças armadas do país, que ocuparam as
instituições do Estado.
A manifestação da diáspora guineense em
Lisboa aconteceu numa altura em que Nuno Nabian se encontra em Portugal e foi
realizada no mesmo dia em que, de manhã, o primeiro-ministro da Guiné-Bissau
foi recebido numa audiência de cortesia pelo chefe do Governo português,
António Costa.
Este facto não passou despercebido aos
guineenses concentrados na capital portuguesa.
"Esta manifestação é feita num
momento em que temos um primeiro-ministro que também foi colocado à força, à
revelia daquilo que é a ordem democrática. E também estranhamos, e de que
maneira, a receção ou o acolhimento oficial que tem sido dado a um
primeiro-ministro que não está de acordo com aquilo que é a Constituição",
declarou Mariano Quade.
"Sabemos que Portugal é um país
democrático, que defende a democracia. E o que nós esperávamos era que pelo
menos fosse ao encontro desses princípios e isso não está a ser
observado", prosseguiu.
Nesse sentido, o ativista guineense
deixou um apelo dirigido ao executivo português.
"Queremos que Portugal e que o seu
Governo interfira e possa ajudar no sentido de repor a ordem constitucional,
que o Governo [guineense] saído das urnas possa retomar as suas funções. (...)
Apelamos ao Governo português que reflita sobre esta matéria", disse
Mariano Quade.
"Esta manifestação é uma
representatividade da diáspora cá em Portugal a dizer não, que este não é o
caminho, vamos respeitar, vamos pela lei, vamos respeitar a Constituição e
vamos pôr a Guiné a andar minimamente dentro das regras", reforçou o
ativista ainda junto da sede da CPLP, onde os manifestantes permaneceram uns
largos minutos antes de regressarem à zona do Rossio para prosseguir o
protesto.
Ainda este mês, no próximo dia 23, os
guineenses na diáspora pretendem manifestar-se em Bruxelas (Bélgica), junto da
sede da União Europeia (UE), para denunciar igualmente a situação que atravessa
atualmente este país lusófono.
"Temos autorização para lá estar,
vamos ser ouvidos pelo Parlamento Europeu, no sentido de os sensibilizar para
aquilo que é o respeito pela ordem constitucional na Guiné-Bissau",
explicou o ativista, concluindo: "Não pedimos de mais, só estamos a pedir
que o nosso país seja governado dentro daquilo que são as regras".
O Presidente Umaro Sissoco Embaló
anunciou recentemente que o Estado vai passar a monitorizar as comunicações
entre os cidadãos, alegando que a medida visa garantir a segurança.
Organizações da sociedade civil guineense têm denunciado detenções e espancamentos de pelo menos uma centena de pessoas, incluindo políticos e empresários, vítimas de violência policial.ANG/Lusa
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