ONU/Assembleia-Geral arranca terça-feira com os líderes mundiais
“em casa”
Bissau, 14 Set 20 (ANG)
- As Nações Unidas reúnem a partir de
terça-feira a sua 75.ª Assembleia-Geral, mas pela primeira vez os líderes
mundiais ficam em casa e a reunião é quase exclusivamente virtual devido à
pandemia de covid-19.
Este ano a reunião magna será diferente de qualquer outra realizada até hoje, uma vez que os líderes mundiais foram “convidados” a “ficar em casa” e a dirigir-se ao mundo através de discursos pré-gravados que serão transmitidos posteriormente ao longo dos v
ários dias do Debate Geral (entre 22 e 29 de Setembro).
Apesar deste apelo feito
aos dirigentes mundiais – para evitar as habituais concentrações de delegações
na sede da organização em Nova Iorque (Estados Unidos) no âmbito das medidas de
prevenção relacionadas com a actual crise pandémica -, as Nações Unidas
relembraram esta semana que qualquer líder mundial tem o direito de comparecer
pessoalmente.
Entre os 193
Estados-membros da ONU, houve pelo menos um que já manifestou essa intenção: o
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que planeia falar a partir da
tribuna da Assembleia-Geral a menos de dois meses de disputar as presidenciais
norte-americanas e tentar a reeleição.
“Pretendo deslocar-me
directamente às Nações Unidas para fazer o discurso”, disse o chefe de Estado
norte-americano, em declarações feitas em meados de Agosto.
“Penso que representa melhor
o país. Sinto-me meio obrigado, como Presidente dos Estados Unidos, a estar
presente (…) para fazer o que será um discurso importante”, frisou então Trump,
que desde que assumiu a liderança da administração norte-americana, em Janeiro
de 2017, tem lançado críticas ferozes ao sistema multilateral das Nações Unidas
e às agências que o integram.
Redução de financiamento
e processos de saída de algumas agências, como foi o caso da Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 2019, e mais
recentemente, da Organização Mundial de Saúde (OMS), são apenas alguns
episódios da relação Trump-ONU.
Apesar de os corredores
da sede da ONU ficarem mais silenciosos por estes dias, a organização liderada
pelo secretário-geral, António Guterres, já fez saber que a 75.ª sessão da
Assembleia-Geral terá um intenso programa, garantindo que a ausência física da
maioria dos líderes mundiais (e a consequente não realização de centenas de
reuniões bilaterais) e o formato virtual das diversas reuniões de alto nível
previstas “não irá significar que as rodas da diplomacia global e do
desenvolvimento sustentável não estarão a girar à velocidade habitual”.
Esta sessão da
Assembleia-Geral teria um significado particular este ano, pois tencionava
assinalar, ao mais alto nível, os 75 anos das Nações Unidas.
Apesar dos
constrangimentos, a efeméride será assinalada na mesma.
No dia 21 de Setembro,
um evento na sede da ONU, que terá direito a uma transmissão ‘online’, pretende
“gerar um apoio renovado ao multilateralismo”, segundo anunciou a organização,
frisando que a iniciativa surge num momento “em que muitos acreditam [que este
apoio] se tornou cada vez mais urgente à medida que o mundo enfrenta a pandemia
da covid-19”.
Espera-se que António
Guterres intervenha, presencialmente, nesta reunião de alto nível.
Neste mesmo evento, está
previsto que os 193 Estados-membros adoptem uma declaração conjunta sobre o
75.º aniversário da organização, que mencione os sucessos e os fracassos da
ONU, mas que também assuma o compromisso de construir um mundo pós-pandémico
mais equitativo, cooperante e protector do planeta.
Aliás, o tema escolhido
para o Debate Geral da 75.ª sessão da Assembleia-Geral também reflecte esta
abordagem: “O Futuro que queremos, as Nações Unidas que precisamos: Reafirmar o
nosso compromisso colectivo com o multilateralismo – enfrentar a covid-19
através de uma acção multilateral eficaz”.
Para assinalar os 75
anos da organização, a ONU lançou, como foi apelidado por António Guterres, o
“maior diálogo global de sempre” sobre a cooperação mundial e o seu papel na
construção do futuro, iniciativa que apelou à participação do “público global”.
Numa entrevista
publicada este verão pela Associated Press (AP), o secretário-geral avançou ter
recebido cerca de 120.000 respostas de pessoas de 193 países.
Na mesma entrevista, o
ex-primeiro-ministro português, que assumiu a liderança da ONU em Janeiro de
2017, frisou que, em 75 anos, o maior feito da organização é o longo período,
desde a II Guerra Mundial, durante o qual as grandes potências não lutaram
entre si e uma guerra nuclear foi evitada.
Já o maior fracasso,
referiu então, foi a incapacidade da organização de evitar a proliferação de
conflitos de média e pequena dimensão.
O programa da 75.ª
Assembleia-Geral inclui ainda, e sempre em formato virtual, uma cimeira sobre
biodiversidade (30 de Setembro) e uma outra sobre a governação mundial
pós-pandemia (a 24 Setembro).
Também estão programadas
outras duas reuniões: uma para assinalar e promover o Dia Internacional para a
Eliminação Total das Armas Nucleares (02 de Outubro) e outra para assinalar o
25.º aniversário da Quarta Conferência sobre a Mulher (01 de Outubro). ANG/Inforpress/Lusa
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