Moçambique/Amnistia alerta para crimes contra civis após três anos de insurgência
Bissau, 07 Out 20 (ANG)
– A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI)
voltou terça-feira a pedir uma investigação independente a crimes contra civis
em Cabo Delgado, norte de Moçambique, numa declaração alusiva aos três anos do
início da insurgência na região.
“As violações contra a
população devem terminar imediatamente” e “as autoridades moçambicanas devem
garantir que nenhum suspeito do crime, incluindo as forças de segurança, fique
impune”, refere Deprose Muchena, director da AI para a África Oriental e
Austral.
As autoridades devem
lançar “uma investigação independente e imparcial sobre estes graves abusos e,
se houver provas suficientes, devem levar os suspeitos a julgamento”,
acrescentou.
Segundo a organização,
“três anos após o início dos combates” na província de Cabo Delgado, as vítimas
do conflito “não estão mais perto da justiça, verdade e reparação”.
“As autoridades não
conseguiram responsabilizar os suspeitos por crimes contra o direito
internacional e violações dos direitos humanos”, sublinhou.
A AI está entre as
organizações internacionais que em Setembro condenaram actos retratados em
vídeos distribuídos nas redes sociais com práticas de tortura e outras
violações de direitos humanos, responsabilizando membros das forças armadas
moçambicanas.
O Governo moçambicano
tem reiterado que são montagens e tem defendido os seus militares e polícias.
“Há evidências de que as
forças de segurança também cometeram crimes contra o direito internacional e
violações dos direitos humanos, incluindo desaparecimentos forçados, tortura e
execuções extrajudiciais”, reafirma hoje Deprose Muchena.
O director da AI
considera que se trata de crimes “agravados pelo facto de as autoridades
moçambicanas não permitirem que jornalistas e investigadores locais e
internacionais documentem a situação, sem repercussões”.
A província costeira
mais a norte de Moçambique, que faz fronteira com a Tanzânia, enfrenta uma
crise humanitária com mais de mil mortos e 250.000 deslocados internos após
três anos de conflito armado entre as forças moçambicanas e rebeldes, cujos
ataques já foram reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, mas cuja
origem continua por esclarecer.
De acordo com a AI, o
número de mortos já ultrapassa os 2.000.
A região deverá acolher
nos próximos anos investimentos da ordem dos 50 mil milhões de dólares (42,6
mil milhões de euros) em gás natural, liderados pelas petrolíferas
norte-americana Exxon Mobil e francesa Total (que já tem obras no terreno), com
apoio de bancos e agências de apoio ao comércio externo de vários países, entre
os quais os EUA. ANG/Inforpress/Lusa
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