RCA/ Rússia nega envio de tropas para o país
Bissau, 22 Dez 20 (ANG)
– A Rússia disse segunda-feira que não enviará tropas para a República
Centro-Africana, onde uma ofensiva de grupos rebeldes está a ser encarada como
“uma tentativa de golpe de Estado” a dias das eleições previstas para domingo.
A posição deste alto
representante russo contraria as declarações do porta-voz do governo da
República Centro-Africana (RCA), Ange Maxime Kazagui, que anunciou a
mobilização para o país de “várias centenas” de soldados russos no quadro do
acordo de cooperação bilateral.
“A Rússia enviou várias
centenas de homens das forças regulares e equipamento pesado” como parte de um
acordo de cooperação bilateral, disse Ange Maxime Kazagui, porta-voz do Governo
da República Centro-Africana (RCA), sem especificar o número exacto ou data de
chegada.
Apesar de não confirmar
o envio de militares, o Kremlin admitiu anteriormente estar “seriamente
preocupado” com a crise na República Centro-Africana.
“As informações vindas
deste país suscitam sérias preocupações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry
Peskov, aos jornalistas, escusando-se, no entanto, a comentar a alegada
presença na República Centro-Africana de soldados russos.
Os líderes dos três
principais grupos armados, que ocupam grande parte do território da RCA e
conduzem uma ofensiva no norte e oeste do país, anunciaram na sexta-feira à
noite a sua fusão e criação de uma coligação.
Os três grupos ameaçaram
atacar se detectarem que o Presidente está a organizar fraudes, como já o
acusam, para conseguir um segundo mandato.
Segundo fontes
humanitárias e da ONU, os grupos armados apoderaram-se de várias localidades
situadas nos eixos que servem a capital e ameaçaram bloquear a cidade.
No sábado, o Governo
centro-africano acusou o ex-Presidente François Bozizé de uma “tentativa de
golpe de Estado.
O partido de François
Bozizé negou, no domingo, qualquer tentativa de golpe.
No mesmo dia, o
porta-voz da Missão das Nações Unidas na RCA (Minusca), Vladimir Monteiro,
disse que os rebeldes foram bloqueados ou repelidos em várias localidades.
A França, a Rússia, os
Estados Unidos, a União Europeia e o Banco Mundial pediram, no domingo, a
François Bozizé e aos grupos armados que depusessem as armas.
François Bozizé, que
liderou o país entre 2003 e 2013 e regressou em Dezembro de 2019, após quase
sete anos de exílio, era apontado como o principal adversário ao actual chefe
de Estado, eleito em 2016 e que procura um segundo mandato.
A RCA caiu no caos e na
violência em 2013, depois do derrube de François Bozizé por grupos armados e,
desde então, tem sido palco de confrontos comunitários, que obrigaram quase um
quarto dos 4,7 milhões de habitantes do país a abandonarem as suas casas.
O Governo
centro-africano controla um quinto do território, sendo o resto dividido por
mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão,
bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre
outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
Um acordo de paz foi
assinado em Cartum, capital do Sudão, em Fevereiro de 2019 pelo Governo e por
14 grupos armados, e um mês mais tarde as partes entenderam-se sobre um Governo
inclusivo, no âmbito do processo de paz.
Na antecipação das
eleições, a missão das Nações Unidas na RCA apontou que estas são “uma
oportunidade para consolidar o processo democrático”.
Portugal está presente
na RCA desde o início de 2017 e tem actualmente no país 243 militares, dos
quais 188 integram a Minusca e 55 participam na missão de treino da União
Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu,
até Setembro de 2021.
ANG/Inforpress/Lusa
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