Demissão/Luís Filipe Tavares afirma que quis “poupar” Cabo
Verde ao “desgaste” das eventuais repercussões políticas negativas
Bissau, 13 Jan 21 (ANG)– O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro da Defesa, Luís Filipe Tavares, justificou terça-feira o seu pedido de demissão por querer “poupar” Cabo Verde a crispação adicional e ao “desgaste” que resultam das eventuais repercussões políticas negativas.
A reacção, através de um
comunicado à imprensa, aconteceu horas depois de ter pedido demissão dos cargos
que vem desempenhando no Governo, tendo o executivo aceitado, por causa da
polémica despoletada na imprensa portuguesa que o aponta o empresário português
César do Paço, nomeado para o cargo de cônsul honorário de Cabo Verde na
Flórida, EUA, como um patrocinador do partido Chega, da extrema-direita.
“Considerando, porém,
informações adicionais e recentes postas a circular, sem fazer qualquer juízo
de valor sobre o seu mérito e ainda imbuído do espírito de poupar a Cabo Verde
a crispação adicional e o desgaste que resultam das eventuais repercussões
políticas negativas, não poderia ter outra atitude que não fosse a de requerer
a S. Exa. o primeiro-ministro a minha exoneração do cargo de ministro dos
Negócios Estrangeiros e Comunidades e de Ministro da Defesa”, justificou.
Segundo Luís Filipe
Tavares, na escolha do César de Paço para cônsul honorário, esteve sempre de
“boa fé”, baseando-se no facto de ter sido cônsul honorário de Portugal por
vários anos, de ser uma pessoa “bem colocada e considerada” na sociedade
americana e de pretender investir em Cabo Verde tendo os recursos próprios
necessários.
O ex-governante afirmou,
ainda, que baseou-se também nas informações a respeito do mesmo obtidas de
fontes independentes e credíveis, sendo que não inquiriu sobre as simpatias
políticas do César do Paço, no contexto americano e português, guiado pela
“inabalável crença na liberdade de escolha político-partidária que deve ser reconhecida
a todos os cidadãos, sem qualquer distinção”.
Tavares tem “firme
convicção” de que as simpatias políticas “são irrelevantes” no critério de
escolha de cônsules honorários ou qualquer outro cargo, acrescentando que Cabo
Verde “não deve imiscuir-se” nas questões partidárias de outros países, nem
permitir que tais questões interfiram nas suas escolhas, do mesmo modo que “não
aceita a interferência de partidos políticos estrangeiros nas questões internas
do país”.
“Para mim, a prova cabal
da probidade do Dr. de Paço foi o exequatur que lhe foi concedido pelas
autoridades americanas. Tal facto, não me suscitou a necessidade de indagações
suplementares. Estou de consciência tranquila dada pela convicção que, neste
caso e noutros, procurei sempre fazer o meu melhor para servir Cabo Verde”,
sublinhou.
Na reportagem de
investigação intitulada “A Grande ilusão: cifrões e outros demónios”, divulgada
esta segunda-feira na SIC, César do Paço é apontado como principal financiador
do Chega, partido da extrema-direita de Portugal.
As informações
divulgadas apontam ainda que César do Paço foi acusado em 1991 em Portugal de
crime de roubo qualificado, tendo o Ministério Público decretado a sua prisão
preventiva, seguindo de um mandado de captura. Contudo, não chegou a ser julgado
porque fugiu. ANG/Inforpress
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