Ucrânia/ONU aprova resolução responsabilizando Rússia por crise na Ucrânia
Bissau, 25 Mar 22(ANG) – A Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou hoje, com uma esmagadora maioria de 140 votos, uma resolução responsabilizando a Rússia pela crise humanitária na Ucrânia devido à guerra.
A
resolução, apresentada pela França e pelo México e apoiada pela Ucrânia, obteve
140 votos a favor, cinco contra e 38 abstenções, dos 193 Estados-membros das
Nações Unidas.
Votaram
contra este texto a Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia, e
entre os países que se abstiveram estão Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e
China.
Portugal,
Cabo Verde, Brasil e Timor-Leste votaram a favor e o voto da Guiné Equatorial
não foi registado, segundo o placar da votação apresentado na Assembleia-Geral.
A
resolução lamenta as “terríveis consequências humanitárias” da agressão da
Rússia, que diz ser “numa escala que a comunidade internacional não vê na
Europa há décadas”. Lamenta os bombardeamentos, ataques aéreos da Rússia a
cidades densamente povoadas, incluindo à cidade de Mariupol, e exige acesso
irrestrito à ajuda humanitária.
Além
da questão humanitária, a resolução hoje aprovada na sede das Nações Unidas, em
Nova Iorque, “exige” da Rússia um fim “imediato” da guerra na Ucrânia.
O
embaixador da Rússia junto da ONU, Vasily Nebenzya, classificou esta resolução
como “outro ‘show’ político anti-russo, desta vez ambientado num contexto
supostamente humanitário”.
Nebenzya
alertou na quarta-feira que a adopção deste projecto de origem franco-mexicano
“tornará uma solução para a situação na Ucrânia mais difícil”, uma vez que
encorajará os negociadores ucranianos e irá “estimulá-los a manter a actual
posição irrealista, que não está relacionada com a situação no terreno, nem com
a necessidade de atacar as causas profundas” da acção militar da Rússia.
Além
desta resolução de origem franco-mexicana, a Assembleia-Geral das Nações Unidas
tinha ainda sob avaliação uma outra resolução humanitária proposta pela África
de Sul, que, por sua vez, optava por deixar de fora qualquer responsabilização
de Moscovo pela guerra, o que levou o projecto a ser duramente criticado por
não identificar o agressor.
Nesse
sentido, a resolução da África do Sul não reuniu sequer apoio suficiente para
ir a votos, após apelos da Ucrânia para que isso não acontecesse.
O
embaixador da Ucrânia junto da ONU, Sergiy Kyslytsya, afirmou que o texto da
África do Sul “nunca foi produto de consultas com a Ucrânia, nem é produto de
consultas inter-regionais”, ao contrário da resolução hoje aprovada.
“É
tinta fresca na estrutura mofada e podre da Assembleia, onde a tinta não é
realmente tinta, mas o sangue de crianças, mulheres e defensores ucranianos”,
disse, exaltado, Sergiy Kyslytsya, sobre a resolução proposta pela África do
Sul, frisando que esse projecto foi promovido pela própria Rússia.
Vários
diplomatas comemoraram a aprovação da da resolução franco-mexicana, como a
norte-americana Linda Thomas-Greenfield, que salientou que “mais uma vez, o
mundo permaneceu unido diante da invasão injustificada e não provocada da
Ucrânia pelo Presidente russo, Vladimir Putin”.
“Juntos,
pedimos a protecção de todos os civis que fogem do conflito e medidas para
mitigar o aumento da insegurança alimentar causada por essa guerra sem sentido.
E juntos, reafirmamos a Carta da ONU. (…) Como o Presidente [dos EUA, Joe]
Biden afirmou claramente, Vladimir Putin não verá a vitória na Ucrânia. E vimos
hoje que ele também não a tem aqui em Nova Iorque”, disse a embaixadora.
Questionada
por jornalistas sobre o eventual impacto no terreno da aprovação desta
resolução, Linda Thomas-Greenfield disse não ter dúvidas de que esta “encorajará
o povo ucraniano” e levará mais ajuda humanitária a esses cidadãos.
A
diplomata disse ainda não poder haver lugar para a neutralidade nesta causa,
referindo-se às 38 abstenções que a resolução obteve.
A
votação de hoje segue-se a uma derrota esmagadora da Rússia também no Conselho
de Segurança da ONU, que na quarta-feira levou a votos uma resolução que
reconhecia as crescentes necessidades humanitárias da Ucrânia – mas sem
mencionar qualquer responsabilidade nessa guerra que deixou milhões de ucranianos
sem comida, água e abrigo.
A 02
de Março, por iniciativa da União Europeia, a Assembleia-Geral da ONU aprovou
um primeiro texto condenando a Rússia por ter invadido a Ucrânia há um mês, em
24 de Fevereiro.
A
resolução foi descrita como “histórica”, por ter obtido 141 votos a favor, 35
abstenções e apenas cinco votos contra.
Contudo,
vários diplomatas recordaram na ONU que nada foi feito pelo Kremlin desde
então, frisando que os ataques a civis até aumentaram.
A
guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 29.º dia, causou um número ainda por
determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que “os números
reais são consideravelmente mais elevados”, a ONU confirmou hoje pelo menos
1.035 mortos e 1.650 feridos entre a população civil.
ANG/Inforpress/Lusa
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