Ciências/Cientistas publicam primeira sequência efectivamente completa do genoma humano
Bissau, 01 Abr 22 (ANG) – Cientistas publicaram hoje a primeira sequência efetivamente completa do genoma humano graças a novas tecnologias que permitiram preencher as brechas deixadas há cerca de 20 anos por um estudo que anunciara o primeiro genoma humano completo.
O
novo trabalho, desenvolvido pelo consórcio internacional de investigadores T2T,
está plasmado em seis artigos publicados na revista científica Science e em
mais de uma dezena de artigos divulgados noutras publicações.
Máquinas
de sequenciação mais sofisticadas e novos métodos de análise computacional
permitiram decifrar as partes do genoma humano que tinham sido descartadas como
lixo e sequenciar na totalidade, sem falhas, o material genético de células
humanas, de uma ponta à outra dos cromossomas, de um telómero a outro – daí a
designação do consórcio (Telomere to Telomere, Telómero para Telómero, T2T).
A
sequenciação do genoma humano finalizada em 2003 por um outro consórcio
internacional de cientistas “correspondia à sequenciação de todas as partes do
genoma que não são altamente repetitivas”, esclareceu à Lusa a geneticista
Luísa Pereira, do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da
Universidade do Porto.
A
investigadora, que coordena no i3S o grupo de trabalho sobre diversidade
genética, explicou que a tecnologia da altura “só permitia estudar as bases (as
letras) de pequenos segmentos (centenas de bases) e o genoma era reconstituído
como um puzzle gigante destes pequenos fragmentos”.
Em
2017 passou a estar disponível tecnologia “que permite sequenciar de uma só vez
fragmentos muito longos”, possibilitando “resolver zonas altamente
repetitivas”, acrescentou Luísa Pereira, assinalando que o consórcio T2T, do
qual não faz parte, usou duas máquinas de sequenciação com as quais obteve “uma
resolução perfeita”. Uma das máquinas pode ler até um milhão de letras de ADN
com uma “precisão modesta” e a outra “pode ler cerca de 20.000 letras com uma
precisão quase perfeita”.
As
lacunas preenchidas pela nova sequência do genoma humano incluem todos os
braços curtos de cinco cromossomas e algumas das regiões mais complexas, como
as que têm cópias extra de genes e ADN repetitivo dentro e em redor dos
telómeros (extremidades dos cromossomas que os protegem) e dos centrómeros
(estruturas centrais que separam os braços curto e longo dos cromossomas e
estão envolvidas na divisão celular).
O
trabalho do consórcio T2T pôs também a descoberto longos trechos de ADN que são
duplicados no genoma e são conhecidos por desempenhar papéis importantes na
evolução humana e na doença.
Para
os cientistas que assinam o trabalho, ter uma sequência completa, sem falhas,
dos cerca de três mil milhões de bases ou letras do ADN (moléculas de ácido
desoxirribonucleico que contêm as instruções genéticas que transmitem as
características herdadas dos pais) é fundamental para compreender as contribuições
genéticas para certas doenças ou como o ADN nas pessoas difere, podendo vir a
ser uma ferramenta útil na medicina personalizada.
“No
futuro, quando alguém tiver o seu genoma sequenciado, poderemos identificar
todas as variantes no seu ADN e usar essas informações para orientar melhor a
sua saúde”, afirmou, citado em comunicado, o investigador Adam Phillippy, que
trabalha no Instituto Nacional de Investigação do Genoma Humano, nos Estados
Unidos, e que codirige o consórcio T2T.
O
consórcio usou a sequência agora completa para descobrir mais de dois milhões
de variantes adicionais no genoma humano, um trabalho que fornecerá informação
mais precisa sobre as variantes em 622 genes clinicamente relevantes.
Segundo
os cientistas, os resultados obtidos apontam, ainda, para “padrões mais
complexos” de alteração de genes que podem ter ajudado a criar a espécie humana
e a explicar a sua rápida evolução.
O
genoma humano é composto por pouco mais de seis mil milhões de letras de ADN
distribuídas por 23 pares de cromossomas (estruturas organizadas de células que
contêm genes, responsáveis pela codificação da informação genética). Em cada um
desses pares de cromossomas, um cromossoma provém do pai e o outro da mãe.
Para
ler um genoma, os cientistas cortam todo o ADN em peças com centenas a milhares
de letras. As máquinas de sequenciação leem as letras de cada peça e os
cientistas tentam colocá-las na ordem certa como se estivessem a montar um
puzzle. O desafio é que algumas regiões do genoma repetem as mesmas letras
várias vezes.
Os
investigadores do consórcio T2T sequenciaram cada cromossoma de uma extremidade
à outra numa linha celular especial que tinha duas cópias idênticas de cada
cromossoma (a maioria das células humanas tem duas cópias ligeiramente diferentes
de cada cromossoma).
De
acordo com um comunicado da universidade norte-americana da Califórnia, que faz
parte do consórcio, foram adicionados quase 200 milhões de pares de bases de
novas sequências de ADN, incluindo 99 genes que provavelmente codificam
proteínas e quase 2.000 genes candidatos que precisam de ser melhor estudados.
O T2T
está a trabalhar para sequenciar um genoma humano com diferentes cromossomas
herdados do pai e da mãe e associou-se ao Consórcio de Referência do Pangenoma
Humano para ler as sequências de ADN de 350 pessoas com o intuito de obter a
descodificação completa do genoma humano mais diversificado possível. ANG/Inforpress/Lusa
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