OMS/Mundo “não presta a mesma atenção às vidas de negros e brancos” – director-geral
Bissau, 14 Abr 22(ANG) – O director-geral da Organização Mundial da Saúde criticou na quarta-feira que o mundo “não presta o mesmo grau de atenção às vidas dos negros e às dos brancos”, comparando a atenção dada à Ucrânia e a conflitos noutros países.
“Toda
a atenção prestada à Ucrânia é muito importante, é claro, porque [o que lá se
passa] tem impacto em todo o mundo, mas não é dada sequer uma fracção dessa
atenção ao Tigray (a região da Etiópia de que é originário, onde há um conflito
armado devastador em curso), ao Iémen, ao Afeganistão, à Síria e a todos os
outros”, lamentou Tedros Adhanom Ghebreyesus numa conferência de imprensa.
“Tenho
de ser directo e honesto, o mundo não trata a raça humana da mesma maneira.
Alguns são mais iguais que outros”, sustentou o responsável da OMS,
parafraseando o escritor norte-americano George Orwell.
“E
quando digo isso, magoa-me (…) É muito difícil de aceitar, mas é o que
acontece”, insistiu, afirmando esperar que “o mundo recupere a razão e trate
todas as vidas humanas da mesma forma”.
O
director-geral da OMS falou longamente sobre a situação na sua região natal do
Tigray, cujos responsáveis estão desde Novembro de 2020 em conflito armado
contra as forças governamentais, afirmando temer que o cessar-fogo humanitário
decretado a 24 de Março pelo Governo de Adis Abeba para deixar a ajuda humanitária
entrar no Tigray, até então isolado de tudo, “não passe de uma manobra
diplomática”.
Em
vez dos 2.000 camiões de ajuda com bens de primeira necessidade que já deviam
ter chegado à região, “chegaram apenas 20, no total, o que representa 1% das
necessidades”, denunciou o dirigente da OMS.
“Na
prática, o cerco entre forças etíopes e eritreias prossegue”, disse Tedros, que
é médico, alertando que sem um acesso totalmente livre da ajuda, centenas de
milhares de pessoas poderão ainda morrer.
O
conflito, que começou em Novembro de 2020 e se propagou, durante algum tempo,
além do Tigray, fez milhares de mortos e mergulhou na fome milhões de pessoas,
sendo as duas partes acusadas de atrocidades.
“O
que está a acontecer na Etiópia é trágico, as pessoas são queimadas vivas por
causa da sua etnia, e por nada mais, e não tenho a certeza se isso foi levado a
sério pela comunicação social”, comentou o responsável da OMS, acrescentando:
“Precisamos de um equilíbrio. Devemos levar cada vida a sério, porque cada vida
é preciosa”. ANG/Inforpress/Lusa
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