Ucrânia/Cidade de Mariupol "está perdida" enquanto ofensiva russa avança
Bissau, 13 Abr 22 (ANG) - Ao 48° dia da invasão russa à Ucrânia, a cidade portuária de Mariupol, no sudeste do país, continua a ser uma das mais afectadas pela ofensiva de Moscovo.
Segundo o
exército ucraniano, já morreram "dezenas de milhares de pessoas" nos
combates das últimas semanas.
Sandra Fernandes, professora especialista
da Rússia da Universidade Portuguesa do Minho, defende que a batalha em
Mariupol está já perdida para os ucranianos.
"As informações que nos chegam é de que existe
uma última bolsa de resistência, nomeadamente, pelas forças Azov e que a cidade
está perdida e indo ao encontro daquilo que se afigura ser o objectivo da
Rússia, de criar um corredor no sul da Ucrânia para garantir o controlo do mar
de Azov e parte do mar negro, da costa da Ucrânia nessa frente marítima",
começou por explicar a professora universitária aos microfones da RFI.
Sandra Fernandes falou depois sobre a
importância da tomada de Mariupol. "Para os russos e, em particular para Putin,
configura-se como uma saída política também, no sentido de apresentar uma
vitória", defendeu a especialista em assuntos russos.
A docente universitária
salientou ainda que existe uma bipolarização entre a situação actual
que se vive em Mariupol e no leste da Ucrânia, mais precisamente na região do
Donbass, e em Kiev, capital ucraniana.
"Em Kiev, vemos uma certa normalização da vida
e, aliás, um regresso das visitas políticas de alto nível. No fim-de-semana,
por exemplo, a da Presidente da Comissão Europeia. Para além disso, está
também prevista a visita de parlamentares alemães. Há um contraste muito grande
entre esta normalização da capital e o aumento do nível de terror nestas zonas
da Ucrânia que inclui o Donbass e Mariupol", explanou.
Nas
últimas horas, o batalhão Azov acusou a Rússia de ter usado armas
químicas em Mariupol. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ainda não
confirmou esta informação e o governo britânico diz "estar a investigar" os
factos. Para a professora especialista da Rússia da Universidade
Portuguesa do Minho, a hipótese da utilização de armas químicas por parte de
Moscovo é verosímil, tendo em conta o historial passado na Rússia noutros
conflitos.
"Se nós compararmos aquilo
que são os instrumentos bélicos utilizados pela Rússia noutros teatros como,
por exemplo, aqueles que são muito referidos ultimamente, que são as duas
guerras da Chechénia ou o envolvimento da Rússia junto de Bachar al-Assad
na Síria, é verosímil sim a utilização desse tipo de armamentos", defendeu a especialista.
Para
Sandra Fernandes, se for comprovada a utilização de armas químicas, estaremos
"numa nova etapa do terror
e numa escalada do conflito" e haverá uma "pressão diplomática" para
que outros países tomem uma posição.
"Se olharmos, por exemplo,
para a conversa telefónica que houve ontem entre o Presidente Joe Biden e o
Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi, temos aqui claramente
uma Índia que não está a aprovar as sanções. Claro que está no seu
posicionamento, uma vez que tem uma relação muito específica de
proximidade com a Rússia, dependente de importações, mas digamos que esta escalada
do conflito também permite o aumento da pressão diplomática para isolar a
Rússia", rematou.
Entretanto,
nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk, no leste do país é esperada uma
nova ofensiva russa, que, segundo disse um alto funcionário ucraniano,
esta segunda-feira, já terá começado.
Questionada
sobre a leitura que faz deste possível avanço russo na região do Donbass, a
professora Sandra Fernandes foi peremptória: "a leitura é novamente aquela de
Putin poder apresentar uma vitória face àquilo que são os objectivos que a
propaganda russa não deixou cair".
"Esta intensificação e aumento do terror no
leste da Ucrânia e aquilo que estamos a ver nos dias de hoje em Mariupol
configura a necessidade do Presidente russo apresentar uma vitória",
concluiu, voltando a fazer referência aos anseios do Presidente russo.
Recorde-se
que a invasão russa à Ucrânia começou a 24 de Fevereiro e, desde essa data, há
registo de centenas de mortos, bem como mais de 11 milhões de refugiados.
Segundo
as Nações Unidas, existem cerca de 13 milhões de pessoas a precisarem de ajuda
humanitária devido ao conflito. ANG/RFI
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