França/CEDEAO tem "falta de legitimidade" para impor condições à Guiné Conacri, diz Fodé Mané
Bissau, 04 Mai 22 (ANG) - A junta militar na Guiné Conacri, que levou a cabo o golpe de Estado de setembro de 2021, anunciou no fim de semana que o período de transição para a democracia se deverá fazer em 39 meses, indo contra as recomendações da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a CEDEAO.
Segundo o professor universitário guineense, Fodé
Mané, a organização tem "falta de legitimidade" para impor condições
à Guiné Conacri, questionando também o envio de uma força militar para a
Guiné-Bissau.
"A junta militar [da Guiné Conacri] viu uma
determinada falta de legitimidade moral da CEDEAO para poder intervir, devido à
sua incoerência e aos desvios dos seus próprios princípios. Então achou que
devia assumir inteiramente o destino do país, elaborar o plano de transição e
não obedecer à CEDEAO", afirmou o académico em entrevista
à RFI.
A CEDEAO queria um período mais curto para
a transição, mas o coronel Mamady Doumbouya, que após o golpe de Estado de
Setembro que derrubou o Presidente Alpha Condé está à frente da Guiné Conacri,
veio afirmar no sábado que o período será de 39 meses.
Fodé Mané, investigador sénior do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné Bissau e antigo diretor da
faculdade de Direito de Bissau, mostra-se preocupado com a actuação dos
militares, mas considera que a CEDEAO não tem mostrado coerência na sua
actuação.
"A CEDEAO não demonstrou ser uma organização,
pelo menos nos últimos tempos, com príncipios, cáracter e dignidade. Havia um
princípio da governação que pedia a alteração das constituições dos
Estados-membros para limitar mandatos dos chefes de Estado e foi a própria
CEDEAO que reconheceu presidentes que têm feito este tipo de violações e esses
presidentes assumiram mesmo a liderança da organização", indicou
o professor universitário, em Bissau.
Esta actuação da CEDEAO é também visível, segundo o analista, no
envio de tropas para a Guiné Bissau, após o alegado golpe de Estado em
Fevereiro que fez vários mortos no Palácio Presidencial. Ainda sem mandato
oficial, vários relatos de populares na zona de São Domingos, norte da
Guiné-Bissau, na semana passada indicavam que elementos da nova força de
manutenção da paz da CEDEAO já tinham entrado no país.
"Na segunda-feira passada,
o porta-voz do Governo disse que o mandato e as limitações desta força vão ser
definidas numa reunião a ser realizada este mês, em Acra. É aí que os chefes de
Estado dos países vão definir o mandato, mas a força já está a actuar no país,
ninguém sabia quem financia, nem qual é a duração. Isto só acontece na
Guiné-Bissau, é uma falta de respeito para com o povo", denunciou.
Ainda segundo Fodé Mané, ao contrário de forças enviadas pela
CEDEAO no passado, esta nova força não veio para proteger as instiuições e a
população, mas sim para defender o poder instalado no país, com os soldados
estrangeiros a misturarem-se com os soldados nacionais, algo que não acontecia
nas missões passadas. ANG/RFI
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