África de Sul/Parlamento chumba destituição do Presidente Ramaphosa
Bissau, 14 Dez (ANG) – O
parlamento da África do Sul impediu terça-feira a destituição do Presidente, ao
rejeitar o relatório de um painel independente que concluiu que Cyril Ramaphosa
pode ter violado a Constituição num caso de alegada corrupção.
Os deputados no parlamento
votaram terça-feira, na Cidade do Cabo, contra a aprovação do relatório
parlamentar com 214 votos contra, 148 votos a favor e duas abstenções, anunciou
a presidente da Assembleia Nacional, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, do partido
Congresso Nacional Africano (ANC, no poder desde 1994), que detém a maioria no
parlamento, com 230 (57,50%) dos 400 deputados.
Cinco deputados do ANC
votaram a favor da aprovação do relatório parlamentar – o que permitiria
desencadear o processo de destituição de Ramaphosa -, entre os quais a atual
ministra da Governação Cooperativa e Assuntos Tradicionais, Nkosazana
Dlamini-Zuma.
Ramaphosa, 70 anos, é
acusado de tentar esconder da polícia e das autoridades fiscais o roubo de
grandes somas de dinheiro, depois de terem sido encontrados mais de 10 milhões
de rands (549 mil euros) na sua quinta agrícola Phala Phala, situada na
província de Limpopo, que faz fronteira com o Botsuana, Zimbabué e Moçambique.
O voto da ministra
Dlamini-Zuma surpreendeu os deputados da Assembleia Nacional, ao ser a primeira
a ‘romper’ as “fileiras” do partido no poder e antigo movimento de libertação,
na votação aberta.
“Como membro disciplinado do
ANC, eu voto sim”, declarou.
Nkosazana Dlamini-Zuma,
Supra Mahumapelo e Mosebenzi Zwane são três dos cinco deputados do ANC que
votaram a favor da aprovação do relatório, disse à Lusa fonte parlamentar
sul-africana.
Vários membros do ANC,
incluindo a ministra do Turismo, Lindiwe Sisulu, ausentaram-se durante a
votação.
Os partidos da oposição
sul-africanos votaram a favor, pedindo um “voto de prestação de contas” com a
consequente “demissão” do Presidente da República.
O ministro da Justiça e
Serviços Correcionais da África do Sul, Ronald Lamola, que é tido como ‘delfim’
de Ramaphosa, votou contra a aprovação do relatório do painel independente
mandatado pelo parlamento, referindo antes da votação que o documento
“estabeleceu um nível muito baixo para que fosse iniciado um processo de
‘impeachment’ (destituição) contra o Presidente.
O debate parlamentar de hoje
decorreu em tom acalorado, e por vezes caótico, em torno de regras e procedimentos.
A sessão realizou-se no
salão municipal da Cidade do Cabo devido à destruição parcial do edifício da
Assembleia Nacional por um incêndio no início deste ano.
Ramaphosa, que substituiu no
cargo Jacob Zuma, em 2018, após vários escândalos de alegada corrupção pública,
é o primeiro Presidente pós-apartheid a enfrentar a possibilidade de um
processo de destituição no parlamento.
A presidente da Assembleia
Nacional, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, nomeou o painel de inquérito parlamentar
após uma moção apresentada pelo líder do ATM, Vuyolwethu Zungula, apelando à
destituição de Ramaphosa com base “numa violação grave da Constituição ou da
lei”.
O relatório parlamentar, da
autoria de um painel independente liderado pelo antigo chefe da justiça, o juiz
Sandile Ngcobo, concluiu que Ramaphosa pode ter violado a Constituição e as
leis anticorrupção através de negócios na sua fazenda Phala Phala, em 2020.
Ramaphosa, que ambiciona a
reeleição na liderança do partido no congresso nacional eletivo agendado para
entre 16 e 20 deste mês, em Joanesburgo, negou irregularidades.
A reeleição na liderança do
ANC permitirá recandidatar-se à presidência da África do Sul em 2024.
No seu relatório, o painel
de inquérito levantou questões sobre a origem do dinheiro e por que foi escondido
das autoridades financeiras, apontando ainda um potencial conflito de
interesses entre os negócios do Presidente e os interesses do Estado.
O chefe de Estado
sul-africano sustentou que o dinheiro é produto da venda de um número não
especificado de búfalos a um empresário sudanês no montante de 580.000 dólares
(549 mil euros), salientou.
O advogado de Cyril
Ramaphosa indicou que o chefe de Estado decidiu contestar o relatório
parlamentar no Tribunal Constitucional, a mais alta instância judicial do país.
As alegações contra o
Presidente partiram do antigo chefe dos serviços secretos sul-africanos Arthur
Fraser (2016-2018) e diretor dos serviços prisionais (2018-2021), que indicou
na acusação que o montante em causa é “aproximadamente entre 4 milhões e 8 milhões
de dólares”, entre 3,78 milhões e 7,57 milhões de euros.
Fraser alegou que um
conselheiro do Presidente transportou ilegalmente avultadas somas de dólares
para a África do Sul desde a Arábia Saudita, Egito, Marrocos e Guiné
Equatorial, segundo o relatório parlamentar a que a Lusa teve acesso.ANG/Inforpress/Lusa
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