África/Combate ao
terrorismo resulta em "violações" dos direitos humanos
Bissau, 13 Jan 23 (ANG)
- O combate ao crescente terrorismo que afecta países em África está a resultar
em violações de direitos humanos, nomeadamente pelo grupo paramilitar russo
Wagner, denunciou a directora-geral interina da organização Human Rights Watch,
Tirana Hassan.
Embora reconheça o
terrorismo que "tem atormentado certos países em África", como
Moçambique e a região do Sahel, a responsável vincou que a violência não se
limita aos grupos insurgentes, e que a organização tem registado violações dos
direitos humanos nas operações de luta contra o terrorismo.
Hassan alertou para a "violações
flagrantes dos direitos humanos, incluindo assassínios de insurgentes e mortes
de civis, detenções em massa e arbitrárias, tudo sob o pretexto do
contra-terrorismo".
"Temo-lo visto no
Mali, por exemplo, onde o Grupo Wagner entrou como milícia privada para
desempenhar um papel nas operações de contra-terrorismo", afirmou, em
entrevista à agência Lusa, defendendo que os abusos "precisam de ser
refreados imediatamente em todo o continente".
Segundo o relatório
anual da Human Rights Watch, publicado hoje, soldados malianos e forças de
segurança estrangeiras aliadas serão responsáveis por centenas de homicídios
ilegais de suspeitos e civis, sobretudo durante operações de contra-terrorismo
nas regiões de Mopti e Ségou.
"Em Março, forças
de segurança malianas e aliadas alegadamente executaram sumariamente mais de
300 homens sob custódia, incluindo supostos combatentes islamistas, em Moura,
no centro do Mali", descreveu, referindo outros incidentes envolvendo a
morte de mais de uma centena de homens e a violação de mulheres.
A empresa militar
privada russa Wagner, propriedade de um oligarca próximo do Presidente russo,
Vladimir Putin, está presente em vários países africanos, incluindo a República
Centro-Africana, Sudão, Mali e Burkina Faso.
O grupo foi alvo de
sanções em 2021 pela União Europeia e Reino Unido por fomentar a violência,
pilhar recursos naturais e intimidar os civis, recorrendo a "tortura e
execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias", em países onde está
presente, como a Líbia, a Síria, a Ucrânia e a República Centro-Africana.
Os mercenários russos
foram recrutados por líderes africanos para render a operação francesa
Barkhane, que saiu de África em Novembro após nove anos de luta contra grupos
fundamentalistas islâmicos ligados à Al-Qaida ou ao grupo Estado Islâmico.
Estes grupos são
responsáveis por ataques em vários países da região do Sahel, norte de África,
e estão gradualmente a alargar as actividades ao Golfo da Guiné.
Desde há cinco anos que
insurgentes armados também estão activos no norte de Moçambique, na província
de Cabo Delgado, onde alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado
Islâmico.
A insurgência já fez
pelo menos um milhão de deslocados e cerca de quatro mil mortos, o que levou a
uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Na terça-feira, as
Forças Armadas da África do Sul anunciaram a abertura de um inquérito sobre o
alegado envolvimento de soldados da força militar regional da SADC em
Moçambique (SAMIM) num vídeo que mostra tropas a queimarem corpos naquele
território.
O vídeo, divulgado nas
redes sociais, mostra militares alegadamente do exército sul-africano e outros
elementos desconhecidos a atirarem cadáveres para uma pilha de escombros a
arder, segundo as autoridades militares de Pretória.ANG/Angop
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