Diplomacia/Espanha e Marrocos acordam acabar com ofensas mútuas sobre territórios
Bissau, 03 Fev 23 (ANG) - Espanha e Marrocos assumiram
quinta-feira o compromisso de acabarem com discursos e "práticas
políticas" que possam "ofender" a outra parte, especialmente em
temas relacionados com a soberania sobre alguns territórios, como o Saara
Ocidental, Ceuta e Melilla.
"Assumimos um compromisso de respeito mútuo pelo qual no
nosso discurso e na nossa prática política vamos evitar tudo aquilo que sabemos
que ofende a outra parte, especialmente o que afecta as nossas respectivas
esferas de soberania", afirmou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez,
em Rabat, onde na quinta-feira terminou a primeira cimeira entre os dois países
desde 2015.
Madrid e Rabat têm tido conflitos diplomáticos recorrentes ao
longo dos anos, alguns deles, envolvendo o Saara Ocidental, antiga colónia
espanhola ocupada por Marrocos há quase 48 anos, e os enclaves espanhóis de
Ceuta e Melilla, que estão no meio de território marroquino e que o país do
norte de África reclama, considerando-as "cidades ocupadas".
A cimeira que hoje terminou na capital marroquina selou, segundo
os dois países, uma "nova etapa" nas relações bilaterais, iniciada em
Abril do ano passado, quando Espanha e Marrocos assinaram uma declaração
conjunta para pôr termo a mais uma crise diplomática que se arrastava há um
ano.
Nessa declaração, Espanha mudou a sua posição histórica em
relação ao Saara Ocidental e reconheceu que a proposta apresentada por Rabat em
2007, para que aquele território seja uma região autónoma controlada por
Marrocos, é "a base mais séria, credível e realista para a resolução deste
litígio".
Espanha defendia até então que o controlo de Marrocos sobre o
Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado
pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.
Em troca, na mesma declaração de Abril passado, Marrocos
reconheceu implicitamente ter fronteiras terrestres com Espanha, ao acordar a
instalação de alfândegas em Ceuta e Melilla.
Hoje, no final da cimeira de Rabat, os primeiros-ministros dos
dois países disseram que Marrocos e Espanha decidiram criar mecanismos para
manter um diálogo permanente sobre todos os temas, "por mais complexos que
sejam", e acabar com "actuações unilaterais", segundo as
palavras de Pedro Sánchez.
A cimeira acabou com a assinatura de 19 acordos, que vão deste
as "políticas migratórias", para abrir "vias de migração
regular", até à "normalização" da passagem de pessoas e
mercadorias pelas fronteiras partilhadas, o que inclui a abertura
"ordenada e progressiva" das alfândegas de Ceuta e Melilla, ainda
segundo o primeiro-ministro espanhol.
Madrid e Rabat acordaram também uma "nova parceria
económica avançada", para abrir caminho a investimentos espanhóis em
Marrocos em "sectores estratégicos" para "a modernização e
desenvolvimento" do país, como a gestão da água, a ferrovia, o sector
agro-alimentar ou o turismo, explicou Sánchez.
"Espanha quer ser um investidor de referência para
Marrocos", disse o primeiro-ministro espanhol, numa declaração ao lado do
homólogo marroquino, Aziz Akhannouch, sem direito a perguntas dos jornalistas.
Sánchez considerou que esta cimeira (designada oficialmente como
uma Reunião de Alto Nível) é "um marco para Espanha e Marrocos", que
assim consolidaram "a nova etapa" da relação bilateral, num
"clima de confiança mútua e garantia de cooperação como nunca antes tinha
existido entre os dois países".
Também Aziz Akhannouch falou num "novo impulso" das
relações com Espanha e na consolidação de um "diálogo transparente e
contínuo", baseado no "respeito" e nos "interesses
mútuos".
O líder do Governo de Marrocos saudou a nova posição de Espanha
em relação ao Saara Ocidental e o apoio à proposta marroquina para resolução de
um "conflito artificial" naquele território.
Para Aziz Akhannouch, "o número e a natureza" dos 19
acordos hoje assinados pelos dois Governos "consolidam a parceria
estratégica" entre Madrid e Rabat e mostram como "as relações
económicas superam o que é conjuntural".
"As relações bilaterais nunca tinham alcançado este nível
de cooperação", acrescentou, segundo a tradução simultânea oficial para espanhol
da declaração em árabe do primeiro-ministro de Marrocos.
Em 2022, e com a recuperação das relações diplomáticas, as
trocas comerciais entre os dois países aumentaram 33% em relação a 2021 e os
fluxos migratórios ilegais que chegaram a Espanha desde Marrocos diminuíram
25%.
Para a cimeira de Rabat, o socialista Pedro Sánchez levou 12
ministros, nenhum do parceiro de coligação no Governo espanhol, a Unidas
Podemos, que discorda da mudança de posição em relação ao Saara Ocidental.
A cimeira realizou-se também num momento de tensão de Marrocos
com a União Europeia (UE), por causa do alegado envolvimento de Rabat no
escândalo de corrupção "Qatargate", relacionado com alegados subornos
de elementos do Parlamento Europeu.
O Parlamento Europeu aprovou recentemente uma resolução em que
pede a Marrocos para respeitar a liberdade de expressão, contra a qual votaram
os eurodeputados do Partido Socialista espanhol, liderado por Sánchez.
Espanha assume a presidência do Conselho da UE no segundo semestre deste ano e Sánchez disse hoje que será uma oportunidade para um "salto qualitativo" da relação de Marrocos com a Europa. ANG/Angop
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