Sudão/Vários países iniciaram "retirada rápida"
Bissau, 24 Abr 23
(ANG) - Multiplicam-se os anúncios de diferentes países
sobre a "retirada rápida" de cidadãos do Sudão, perante o receio
crescente dos sudaneses que lá ficam de verem o conflito piorar ainda mais.
Os confrontos
duram há uma semana e
provocaram mais de 420 mortos, 3700 feridos e
dezenas de milhares de deslocados.
A França anunciou, domingo, ter iniciado a operação de
"retirada rápida" do Sudão dos seus cidadãos e pessoal diplomático,
mas também de cidadãos europeus e nacionais de "países parceiros
aliados". Um francês teria sido ferido num ataque contra uma coluna
da embaixada francesa durante a retirada, ainda que Paris não o tenha
confirmado. A informação foi divulgada pelas partes em conflito que trocam
acusações sobre o ocorrido: o Exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de
Apoio Rápidas (FAR). A Itália e a Turquia também sinalizaram que a
retirada dos seus cidadãos terá início este domingo.
Os Estados Unidos retiraram, no sábado,
pessoal diplomático e suspenderam as operações da sua embaixada. Foram as
forças especiais a bordo de helicópteros oriundos da base americana de Djibuti
que recuperaram cerca de cem pessoas em apenas uma hora em Cartum. O
aeroporto da capital continua a não funcionar e as rotas terrestres de Cartum
para fora do país são longas e perigosas.
A Arábia Saudita retirou cidadãos a partir
do principal porto sudanês, situado a 650 quilómetros de Cartum. A Jordânia
também está a usar esta via para os seus nacionais. O Egipto apelou aos seus
nacionais para irem para o consulado de Porto Sudão ou para um posto consular
em Wadi Halfa, na fronteira com o Egipto, para preparar a retirada. Quanto aos
que vivem em Cartum, pediu para se protegerem. Há cerca de 10.000 egípcios no
Sudão.
Desde que começaram, a 15 de Abril, os
combates entre as forças armadas sudanesas e o grupo paramilitar provocaram
mais de 420 mortos e 3700 feridos, de acordo com a Organização Mundial de
Saúde. Há também dezenas de milhares de deslocados.
Em Cartum, os cinco milhões de habitantes
estão sem água corrente, sem electricidade, com falhas constantes nas redes de
telefone e de internet e temem o pior depois da retirada dos estrangeiros:
ficarem abandonados à sua sorte, sem qualquer protecção, e verem o conflito
piorar ainda mais. Tanto mais que, de acordo com o sindicato dos médicos,
"72% dos hospitais" nas zonas de combate foram destruídos ou
obrigados a fechar.
Este domingo, os combates continuavam na
capital e arredores, principalmente em torno do quartel-general do exército e
do aeroporto. A violência também regressou em força ao Darfur, onde os Médicos
Sem Fronteiras falam em "situação catastrófica".
A retirada e/ou suspensão da maioria das
organizações humanitárias só vai agravar a situação. O Sudão é um dos países
mais pobres do mundo, apesar de ser o terceiro maior produtor de ouro de
África. Um terço da população é afectada pela fome. Vários analistas alertam
que o conflito pode ganhar terreno para além das suas fronteiras. ANG/RFI
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