Costa
do Marfim/ A morte de Henri
Konan Bédié, segundo presidente marfinense
Bissau, 04 Ago 23 (ANG) – Henri
Konan Bédié, antigo presidente da Costa do Marfim, morreu terça-feira (01) em Abidjan, maior cidade do
país, aos 89 anos. Bédié é uma figura de uma importância incontestável e
emblemática daquele país africano.
Em 1993 converteu-se no chefe de Estado da Costa do
Marfim, sucedendo a Félix Houphouët-Boigny que falecera naquele mesmo ano, que
por sua vez é o pai da independência marfinense
Nascido aos 5 de Maio de 1934 em Dadiékro, na região de Daoukro,
no centro-leste do país, Aimé Henri Konan Bédié é uma figura de uma importância
incontornável e emblemática para a política da Costa do Marfim.
O anúncio da sua morte a 1 de Agosto de 2023 na Policlínica
Internacional Sainte Anne-Marie (PISAM), em Abidjan, pelo seu partido, teve uma
repercussão dantesca, embora este desaparecimento fosse esperado por muitos.
Oriundo de uma família de cultivadores de cacau de sangue real, HKB, como é
conhecido, esteve envolvido na política marfinense desde antes da
independência, a 7 de Agosto de 1960.
Sangue real este que Konan Bédié não nega, mas tampouco o utiliza
como factor distinctivo e muito menos uma razão para o seu engajamento
político. Na sua autobiografia “Les chemins de ma vie: entretiens avec Éric
Laurent”, explica que foi educado nos princípios desta nobreza: honra, sentido
de comando, mas também obediência. “A educação que recebi não me
incutiu a ideia de que deveria um dia preparar-me para governar o povo da Costa
do Marfim. Nasce-se príncipe de sangue sem ser necessariamente príncipe
herdeiro”, disse.
Bédié explica que o seu engajamento político é o resultado da sua
vontade em combater o domínio colonial. Desde que ingressou na Escola Normal de
Dabou, no leste do país, em 1947, HKB esteve em contacto com movimentos e
ideais que manifestavam a sua oposição ao colonialismo francês. No término do
ensino médio, parte estudar para a Universidade de Poitiers, em França, onde
obteve diplomas direito, economia política e economia. Foi também durante o seu
percurso na Universidade de Poitiers que Bédié estreitou os laços com a
Federação dos Estudantes Negros Africanos em França (FEANF).
Descrito pela
população local como "um homem
pequeno e redondo, com olhos
penetrantes e um meio
sorriso permanente tingido de ironia", é muitas vezes visto
como "intransponível",
o que lhe valeu, sem dúvida, a alcunha de "Esfinge de Daoukro" (de onde é originário).
Henri Konan Bédié é herdeiro político
de Félix Houphouët-Boigny,
pai da independência marfinense. Em 1959, o então primeiro-ministro
Houphouët-Boigny nomeia Bédié para a embaixada nos Estados Unidos, reconhecendo
o seu trabalho que lhe rendiam uma certa "fama" no meio político. Em
1966 é nomeado para o cargo de ministro das finanças, mandato este que
coincidiu com o "milagre económico marfinense", um período marcado
pela subida meteórica dos preços das matérias-primas como o café e o
cacau.
Um desentendimento entre os dois culmina
na sua exoneração, e Bédié volta para os Estados Unidos. Em 1990 regressa ao
país para presidir a Assembleia Nacional. Em 1993 converteu-se no chefe de
Estado da Costa do Marfim, sucedendo a Félix Houphouët-Boigny que falecera
naquele mesmo ano.
Esta ascensão deu início a uma nova etapa
na política da Costa do Marfim. Com poderes acrescidos, Bédié tentou por
sucessivas vezes utilizar o cargo para dificultar a actividade política dos seus
adversários, como era o caso de Alassane Ouattara. Alegando o conceito de
"ivoirité", uma ideia
criada por Dieudonné Niangoran-Porquet, que defende que "uma pessoa
só seria verdadeiramente costa-marfinense, e portanto capaz de se candidatar a
uma eleição presidencial, se tanto o seu pai como a sua mãe fossem de origem
costa-marfinense". Este facto permitiu-lhe eliminar o seu principal
rival, Alassane Ouattara,
nas eleições presidenciais de 1995 na Costa do Marfim, oriundo da dinastia
Ouattara (império Kong, entre a Costa do Marfim, Burquina Fasso e o Mali), mas
de presumida origem burquinabê.
A sua passagem pela presidência terá sido
marcada por uma considerável turbulência, nomeadamente por crises sociais e
políticas, que de certa forma reduziram a estima que a população tinha pelo
herdeiro político de Félix Houphouët-Boigny, pai da independência
marfinense. HKB é deposto a 24 de Dezembro de 1999 na sequência de um
motim que culminou num golpe de Estado militar. Bédié parte então para o exílio
escoltado por um avião do exército francês. Em 2001 regressa ao país e volta à
vida política, de onde nunca mais saiu.
O seu desaparecimento aos 89 anos deixará
uma marca permanente na memória de todos os marfinenses, seja ela positiva ou
negativa. Aimé Henri Konan Bédié deixou um vácuo de poder e influência na
política nacional, eternamente disputado pelo trio Konan Bédié, Alassane Ouattara e Laurent Gbagbo, abrindo
espaço para uma nova etapa na história da Costa do Marfim.ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário