Suíça/Alterações
climáticas agravam crise alimentar e conflitos em África
Bissau, 06 Set 06(ANG) – África, onde os desastres climáticos afetaram 110 milhões de pessoas e causaram 5.000 mortes em 2022, sofre desproporcionalmente os efeitos do aquecimento global, que agravará a crise alimentar e os conflitos no continente, advertiu hoje a Organização Meteorológica Mundial.
A
região, que apenas emite 10% dos gases com efeito de estufa, poderá enfrentar
perdas devido às alterações climáticas entre 290.000 a 440.000 milhões de
dólares nas próximas décadas, revelou hoje um estudo elaborado pela agência das
Nações Unidas.
No
documento, a OMM adverte que África é o continente onde a produtividade
agrícola mais baixou, cerca de 34% desde 1961, devido à mudança do clima, algo
preocupante num continente onde cerca de 55% da população ainda se dedica ao
sector primário, escreve a agência EFE.
Cada
vez mais dependente das importações de alimentos – que a converteram numa das
zonas mais afetadas pelos efeitos da guerra na Ucrânia no mercado mundial de
bens de primeira necessidade, África poderá triplicar essas compras nos
próximos anos, até ter de gastar 110.000 milhões de dólares em 2025, alerta a
organização no trabalho agora publicado.
A
publicação coincide com a realização, esta semana em Nairobi, capital do
Quénia, da Cimeira do Clima de África, e conta também com a colaboração da
União Africana (UA) e da Comissão Económica para África das Nações Unidas
(UNECA, na sigla em inglês).
Segundo
os peritos, se for alcançado um aumento das temperaturas de quatro graus (o
Acordo de Paris insta a não ultrapassar 1,5 graus), África poderá – mesmo com
mecanismos de adaptação – sofrer perdas anuais equivalentes a três por cento do
Produto Interno Bruto (PIB) continental.
Tudo
isto poderá aumentar os conflitos por terras produtivas cada vez mais escassas,
em alguns países onde os confrontos entre agricultores e fazendeiros, por esta
razão, cresceram nos últimos 10 anos, frequentemente misturados com fatores
étnicos e religiosos, em zonas como o Sahel ou o Corno de África.
O
estudo indica que o ritmo de subida das temperaturas acelera em África, como
noutras regiões: se foi de 0,2 graus por década no período 1961-1990, em
comparação com a era pré-industrial (1850-1900), foi de 0,3 graus entre 1991 e
2022.
O
continente também assiste a um aumento do nível do mar de 3,4 milímetros por
ano, um valor semelhante às restantes regiões do planeta, apesar de a média ser
superior nas costas do mar Vermelho (3,7 milímetros) e do oceano Índico (3,6).
Cerca
de 43% das vítimas das alterações climáticas no ano passado, em África, foram
pessoas afetadas pelas inundações e 48% pelas secas que atingiram especialmente
a região do Corno de África, onde cinco estações consecutivas de más colheitas
causaram fome na Somália, com vagas de 1,2 milhões de deslocados, aos quais há
a somar outro meio milhão na vizinha Etiópia.
A
mudança do clima não só se fez sentir recentemente na pior seca em 40 anos no
Corno de África, como também nos graves incêndios que assolaram os países do
Magreb, como a Argélia ou a Tunísia, nas inundações do Sahel (Nigéria, Níger,
Chade e Sudão) ou nos efeitos dos ciclones tropicais em Madagáscar.
Os
especialistas recordam, no relatório, que as nações africanas precisam de 2,8
biliões de dólares para poderem cumprir as obrigações de redução de emissões
para o cumprimento do Acordo de Paris, para o que contam com a ajuda de
instituições como o Banco Africano de Desenvolvimento.
ANG/Inforpress/Lusa
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