Sudão/ Organizações humanitárias exigem ação ao Conselho de Segurança
Bissau, 13 Set 23 (ANG) - A comunidade internacional tem que mobilizar-se para enfrentar "o desastre que está a acontecer diante dos nossos olhos", afirmaram hoje os líderes de mais de 50 organizações internacionais de direitos humanos e humanitárias numa declaração conjunta.
"O Sudão já não se
encontra à beira do precipício das atrocidades em larga escala, caiu
nele", alertaram os co-signatários da declaração, que apela ao envio de
ajuda e exige a solidariedade e atenção à crise globais.
"O Conselho de
Segurança das Nações Unidas deve passar do discurso à ação e iniciar
negociações para aprovar uma resolução que dê resposta ao clima de impunidade,
reitere que o direito internacional, exija o acesso humanitário seguro e sem
obstáculos e redirecione os esforços internacionais para proteger melhor os
mais vulneráveis do Sudão", afirmam os líderes das organizações
não-governamentais (ONG).
Cinco meses após o
início dos combates em Cartum, a capital do Sudão, o conflito, repleto de
violações dos direitos humanos, alastrou-se ao Darfur e aos estados do Cordovão
do Sul e do Nilo Azul.
A violência sexual está
a aumentar, os civis enfrentam ataques generalizados, deliberados e
indiscriminados, e os jornalistas e defensores dos direitos humanos estão a ser
silenciados, alertam no texto.
"O Conselho de
Segurança das Nações Unidas, que tem o Sudão na ordem do dia há décadas, ainda
não aprovou uma única resolução substantiva sobre a crise atual", acusam
as ONG.
"Perante as
atrocidades crescentes no Sudão, o Conselho de Segurança negligenciou a sua
responsabilidade de responder com firmeza", afirma Tirana Hassan, diretora
executiva da Human Rights Watch, citada na declaração.
"O principal órgão
do mundo para a paz e segurança internacionais não deve permanecer em silêncio
diante de graves crimes internacionais", acrescenta a ativista.
Agnès Callamard,
secretária-geral da Amnistia Internacional, afirma, por sua vez, que "o
Conselho de Segurança não pode continuar a desviar o olhar: deve exigir um
aumento significativo do apoio humanitário ao Sudão e alargar o atual embargo
de armas a todo o Sudão e garantir a sua aplicação."
O apelo dos líderes das
organizações dos direitos humanos, a que se referiram como uma tentativa de
"fazer soar o alarme", foi lançado hoje para coincidir com uma
reunião do Conselho de Segurança sobre a situação no Sudão.
Mais de 20 milhões de
pessoas no país, 42% da população sudanesa, enfrentam insegurança alimentar
aguda e seis milhões estão a um passo da fome. Pelo menos, 498 crianças
morreram de fome.
Hospitais e médicos têm
sido alvo de ataques em todo o Sudão e cerca de 80% dos principais hospitais do
país ficaram fora de serviço desde 15 de Abril, quando começaram as
hostilidades abertas em Cartum.
Mais de cinco milhões de
pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas e centenas de milhares de outras
estão em risco de se lhes juntar em breve.
"Nos últimos meses,
temos visto os campos de refugiados onde trabalhamos no Chade ficarem repletos
de pessoas forçadas a abandonar as suas casas", afirma Mark Hetfield,
presidente e diretor executivo da organização de proteção dos refugiados HIAS,
também citado no texto conjunto.
Os deslocados do Darfur
"estão a chegar com fome, feridos e traumatizados, precisam de assistência
e proteção urgentes, mas também precisam que o mundo se mobilize para pôr fim à
violência", acrescenta Hetfield.
Niemat Ahmadi,
presidente e fundadora do Darfur Women's Action Group, recorda que "o
mundo prometeu que nunca mais permitiria a ocorrência de genocídios e de outras
atrocidades massivas no continente africano" depois do Ruanda em 1994.
Não obstante, o Darfur
chocou o mundo em 2003 pelas mesmas razões e, "apesar da indignação
global, os seus responsáveis nunca foram levados à justiça", prossegue a
ativista.
"É de partir o
coração ver os mesmos padrões em ação novamente. Desta vez, crimes
internacionais tão graves não devem ficar impunes", conclui Ahmadi. ANG/Angop
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