Cabo Verde/Presidente da República e antigos chefes de Estado defendem “comemoração condigna” do centenário de Amílcar Cabral
Bissau, 09 Nov 23 (ANG) – O Presidente da República, José Maria Neves, e os antigos chefes de Estado Pedro Pires e Jorge Carlos Fonseca pediram, na cidade da Praia, uma “comemoração condigna” do centenário do nascimento de Amílcar Cabral.
Os três defenderam esta
posição, na noite de quarta-feira, 08, quando solicitados pela plateia, durante
o “Presid Talk- Inovação Política em Cabo Verde” para comentar sobre o chumbo
do projeto de resolução do centenário Amílcar Cabral, no parlamento, tendo
atribuído tal reprovação ao “excesso de partidarização” no País.
Para Jorge Carlos
Fonseca, a independência não se discute, enfatizando que a
“partidarização do espaço político excessivo” é um fenómeno que condiciona
o estado da democracia em Cabo Verde.
“Tenho a percepção de
que Cabo Verde, do ponto de vista daquilo que nós chamamos as representações
coletivas, está dividido ao meio, praticamente. Essa divisão tem razão de ser,
há a ideia de que a maioria dos simpatizantes do PAICV vê o PAICV a referência
maior decisiva de independência com Cabral. E os simpatizantes do MpD, na sua
representação mental e coletiva, veem a democracia como conquista do MpD”,
concretizou
Este facto, assinalou,
ainda divide o País, pelo que “favoreceu e potenciou” o chumbo da resolução.
No entanto, referiu que
desconhece a resolução, tendo ressaltado que o centenário de Amílcar Cabral
deve ser comemorado “com dignidade” e que de uma forma ou de outra a efeméride
será celebrada.
Brevemente, anunciou
Jorge Carlos Fonseca, irá lançar em Cabo Verde uma instituição que terá
denominação provável de iniciativa liberdade e democracia, que se vai dedicar à
promoção da cultura da liberdade, da democracia e da constituição em Cabo
Verde, para que isso seja um ponto de partida para um “desenvolvimento
sustentável, justo e igualitário” para Cabo Verde.
“Não estaria muito de
acordo relativamente a esta separação entre o povo da independência e da
democracia”, discordou, por outro lado, José Maria Neves.
“Eu sou do PAICV, exerci
o cargo de primeiro-ministro em democracia durante 15 anos, eu acho que é uma narrativa
da elite política cabo-verdiana, e não é a representação do cidadão ou do povo
cabo-verdiano. Há um só Cabo Verde que lutou pela independência e pela
construção da democracia, ganhos de todos os cabo-verdianos”, disse, vincando
que se assiste a uma “disputa de protagonismo” entre estes dois momentos
históricos para Cabo Verde.
“Acho que esta questão
da resolução tem a ver com a excessiva partidarização em Cabo Verde, pode
haver estes problemas de natureza jurídica que o presidente Jorge Carlos Fonseca
se refere, mas já aprovamos outra resoluções com o mesmo conteúdo (…) Mas acho
que depois dessa discussão, haverá um espaço para um debate político e para se
comemorar condignamente o centenário do nascimento de Amílcar Cabra|”, declarou
José Maria Nves.
Por fim, Pedro Pires,
por seu lado, enquanto presidente da Fundação Amílcar Cabral, avançou que há
que se discutir mais sobre a independência de Cabo Verde, argumentando que há
“muita desinformação”, bem como gente que “não pode ouvir falar dos movimentos
da libertação”.
Sobre a não aprovação da
resolução, explicou que quem está a trabalhar no centenário de Amílcar Cabral
há mais de dois anos é a própria Fundação, que vem desempenhado um “papel
importante” neste aspecto, levando a população a refletir mais sobre a
personalidade de Cabral.
Pedro Pires sustentou
que a proposta levada à Assembleia Nacional não é uma iniciativa do PAICV e sim
da fundação, que consultou todos os líderes parlamentares e o presidente
da Assembleia Nacional, e o grupo parlamentar PAICV foi escolhido para levar a
proposta.
“A posição da fundação é
que não devemos entrar em disputa e que devemos fazer tudo para que essa
celebração seja mais abrangente possível e que não seja motivo de conflito,
portanto vamos continuar a agir neste sentido(…) o Estado de Cabo Verde só
ganha com esta celebração adequada do centenário Amílcar Cabral, porque a ideia
é fazer um simpósio internacional com participação das pessoas, de estudiosos
(…)”, considerou Pedro Pires.
ANG/Inforpress
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