Política/Presidente
da Assembleia Nacional Popular diz que se está perante um "golpe
constitucional"
Bissau,
06 Dez 23 (ANG) - Depois de o Presidente da República anunciar, segunda-feira,
a decisão de dissolver o parlamento e convocar legislativas antecipadas em
resposta aos acontecimentos da madrugada de 1 de Dezembro que qualificou de
"tentativa de Golpe de Estado", o Presidente da Assembleia Nacional e
presidente do partido maioritário, Domingos Simões Pereira, considerou que esta
decisão é um "Golpe de Estado constitucional".
Antes de se reunir com
as diversas entidades que compõem o parlamento, em declarações à imprensa
dentro do parlamento, Domingos Simões Pereira recordou que a Constituição
estipula que "uma assembleia nacional legalmente constituída não pode ser
dissolvida nos primeiros doze meses da sua existência".
"Uma Assembleia Nacional
Popular legalmente constituída não pode ser dissolvida nos primeiros doze meses
da sua existência. Portanto, se for o caso, independentemente do mecanismo que
for utilizado para este efeito, estamos em presença de uma subversão da ordem
democrática e se isto não é um Golpe de Estado institucional, eu não sei o que
dizer mais", disse o Presidente da Assembleia Nacional
Popular.
Questionado sobre o seu
posicionamento quanto à realização de eleições legislativas antecipadas,
Domingos Simões Pereira sublinhou que na sua óptica não se está num quadro
legal. "Se, observando a Constituição, se tivesse decidido pela
dissolução da Assembleia Nacional Popular, haveria obrigatoriedade de, dentro
de 90 dias, se convocar eleições, mas eu penso que todos nós guineenses temos
consciência do que está a acontecer e não vai, de forma alguma, em alinhamento
com aquilo que são as normas constitucionais e, portanto, é esperar para
ver", considerou o responsável.
"Na minha perspectiva e na
minha leitura, a Assembleia continua válida porque a única instância que pode
realmente derrubar a Assembleia é a observância da Constituição e não é o caso
do que está a acontecer neste momento",
acrescentou ainda Domingos Simões Pereira antes de seguir para auscultações no
seio do Parlamento.
Recorde-se que esta
manhã, após uma reunião com o Conselho do Estado, o Presidente da República
anunciou a dissolução do Parlamento, à luz dos acontecimentos da madrugada de 1
de Dezembro que qualificou de "tentativa de Golpe de Estado". O decreto presidencial que dissolve o
parlamento da Guiné-Bissau fala na “existência de fortes indícios de
cumplicidade de políticos” na “tentativa de golpe de Estado” de 1 de Dezembro.
“Em vez de pugnar pela aplicação
rigorosa da Lei de Execução Orçamental e exercer o seu papel de fiscalização
dos atos do Governo, preferiu sair em defesa dos membros do Executivo suspeitos de
envolvimento na prática de atos de corrupção que lesaram gravemente os
superiores interesses do Estado. Perante esta tentativa de golpe de Estado, que
seria consumada pela Guarda Nacional, e a existência de fortes indícios de cumplicidade
de políticos, tornou-se insustentável o normal funcionamento das instituições
da República, factos esses que fundamentam a existência de uma grave crise
política”, refere ainda o decreto presidencial.
Na madrugada da passada
sexta-feira 1 de Dezembro, morreram duas pessoas durante confrontos entre
membros do Batalhão do Palácio presidencial e agentes da Guarda Nacional,
depois de estes últimos terem retirado da prisão o Ministro da Economia e
Finanças e do secretário de Estado do Tesouro. Os governantes tinham sido
presos na quinta-feira depois de serem ouvidos pelo Ministério Público sobre
avultados pagamentos efetuados em nome do Estado guineense a um conjunto de
empresários.
Depois da intervenção
das Forças Armadas, o comandante da Guarda Nacional foi detido e os governantes
foram novamente colocados na prisão. ANG/RFI
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