Moçambique/Mais de três milhões de moçambicanos em situação de insegurança alimentar
Bissau,
11 Jan 24 (ANG) – A Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO, na sigla em inglês) estima que mais de três milhões de
moçambicanos vivem atualmente em situação de insegurança alimentar aguda,
afetando especialmente a província de Cabo Delgado, no norte.
De acordo com um relatório divulgado hoje pela FAO, consultado pela Lusa, cerca de 2,6 milhões de moçambicanos estavam em situação de insegurança alimentar aguda entre maio e setembro e necessitavam “de assistência urgente”. Destes, 126.000 pessoas estavam na fase 4 do índice de Segurança Alimentar Integrada (IPC, na sigla em inglês), em situação de emergência, e os restantes 2,5 milhões na fase 3, em situação de crise.
O relatório acrescenta que, para o período de outubro de 2023 a
março de 2024, cerca de 3,3 milhões de pessoas “enfrentam insegurança alimentar
aguda ou superior” em Moçambique, equivalente à fase 3 do IPC, dos quais
220.000 pessoas na fase 4, de emergência.
“Representam 21% da população dos distritos mais afetados pelos
choques [climáticos e ataques terroristas] em 2023”, aponta o relatório.
Na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, palco desde
2016 de ataques terroristas que provocaram mais de um milhão de deslocados, “o
número de pessoas que necessitam de alimentação de emergência a assistência
continua elevada”. O relatório da FAO refere mesmo que 863.000 pessoas em Cabo
Delgado vivem na fase 3 do IPC ou superior - em insegurança alimentar aguda -,
equivalente a 32% da população total, no período entre outubro de 2023 a março
de 2024, um aumento de 19% face ao período anterior.
“No sul e centro do país, o número de pessoas que necessitam de
assistência resulta do esgotamento das reservas alimentares e o impacto do ‘El
Niño’”, lê-se ainda no relatório.
Em resposta à “ameaça à segurança alimentar” em Moçambique, a
FAO refere estar a “fornecer sementes certificadas de alta qualidade” aos
agricultores, para garantir que “são capazes de produzir alimentos durante a
principal época agrícola”.
O objetivo é reduzir “parcialmente o risco de insegurança
alimentar nas zonas mais vulneráveis”, acrescenta.
Para a principal campanha agrícola em Cabo Delgado, em curso, a
FAO acrescenta que prevê fornecer ‘kits’ agrícolas a 24.600 agregados
familiares, apoiando 123.000 pessoas, com sementes de milho e feijão e
ferramentas agrícolas, em 12 distritos daquela província.
Na província de Gaza, sul do país, a FAO está a “ajudar as
famílias mais vulneráveis para evitar a escassez de alimentos durante o pico do
período de seca”. Através desta ação, a FAO prevê apoiar 2.500 famílias, num
total de 12.500 pessoas, “com acesso a sementes melhoradas e ferramentas
agrícolas”.
“Através de um sistema de e-voucher, onde cada beneficiário
recebe um voucher no valor de 3.200 Meticais [46 euros] para comprar sementes e
ferramentas a comerciantes locais. O cartão e-voucher dá acesso a sementes de
ciclo curto culturas como milho, feijão e vegetais, incluindo ferramentas como
enxadas, regadores e facões", disse a organização.
Além disso, a FAO está a priorizar “as famílias que perderam a
produção em resultado dos efeitos do mau tempo” da última campanha agrícola,
bem como famílias chefiadas por pessoas com deficiência física, por mulheres e
viúvas, idosos ou crianças órfãs, bem como famílias com mulheres grávidas e
famílias que vivem com crianças menores de cinco anos e pessoas com doenças
crónicas.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados
pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e
ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há
memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones
Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.
Já no primeiro trimestre do ano passado, as chuvas intensas e a
passagem do ciclone Freddy pelo país provocaram 306 mortos, afetaram mais de
1,3 milhões de pessoas e destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula,
segundo dados oficiais do Governo.ANG/Lusa
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