França/Museu do Homem mostra como
descoberta de pinturas e gravuras rupestres abalou o século XX
Bissau, 08 Fev 24 (ANG) - O Museu do Homem, em Paris, mostra como a descoberta de pinturas e gravuras rupestres abalou o início do século XX não só no âmbito da Ciência, mas também nas Artes e, sobretudo, na maneira como os homens primitivos eram vistos.
A comissária da exposição, Egídia Souto, fez
uma visita guiada, em exclusivo, para a RFI.
Até ao século XX nada se sabia no Mundo
Ocidental sobre a faceta artística dos nossos antepassados. Graças a figuras
como Henri Breuil ou Leo Frobenius, e às suas investigações no terreno, a
sociedade dos anos 30 começou a interrogar-se sobre não só o que faziam, mas
quem eram, o que sentiam e o que interpretavam artisticamente os primeiros
homens que desenhavam nas cavernas.
Esta mediatização das pinturas e gravuras
rupestres e o frenesim que provocou na época está patente no Museu do Homem, em
Paris, através da exposição Pre-Histomania que pode ser vista até ao dia 20 de
Maio.
A comissária da exposição. Egídia Souto,
professora de literatura e historia da arte africana na Sorbonne, faz-nos a
visita guiada a um passado mais próximo do que imaginamos.
"É uma
exposição que retrato o percurso humano, de homens e mulheres, que acompanharam
um etnólogo alemão, Leo Frobenius, que realizou 12 missões no início do século
XX e que o acompanharam para fazer os levantamentos, fazer cópias, de grutas ou
paredes rochosas onde havia pinturas da Pré-História. Copiaram-nas em tamanho
real e trouxeram-nas para a Europa. Desde muito cedo, essas reproduções foram
mostradas em mais de 30 cidades", explicou.
Na primeira sala, as paredes estão cobertas
de grandes desenhos na Vertical e horizontal. É a escala das diferentes grutas
exploradas pela equipa de Leo Frobenius. Egídia Souto falou-nos das mais
significativas encontradas nas missões ao Zimbabwe, África do Sul e Lesotho.
"As
grutas viajam muito mal. Até ao início do século XX, a pré-história resumia-se
a cilex ou a pedras, então Leo Frobenius pediu às equipas para copiarem e era a
primeira vez que se via o que havia nessas paredes", disse a
académica.
Assim, depois de localizar as gravuras ou
pinturas, a equipa tinha a tarefa de lá chegar. Muitas destas mulheres e
homens, a maior parte muito jovem, tinham de aceder a grutas ou penhascos
escalando ou caminhando longos período na floresta ou no deserto. Estas
reproduções efetuadas na maior parte das vezes em condições adversas, são hoje
o único registo do que existia nessas paredes, já que muitos destes lugares
hoje já não existem.
Se muitas missões levaram a equipa de Leo
Frobenius ou de Henri Breuil para longe, outras fizeram-se na Europa. Uma das
mais significativas foi à gruta de Alta-Mira, em Espanha, com os contemporâneos
destes académicos a não acreditarem à primeira que os homens primitivos eram
capazes de produzir arte com tanto detalhe e delicadeza.
Egídia Souto explicou quem era afinal Leo
Frobenius e qual o impacto das suas descobertas na Ciência, mas também nas
artes e na percepção em geral do início da Humanidade.
"Leo
Frobenius não era um especialista da pré-história, ele vai para África para
fazer uma recolha de mitos e, desde logo, ele tem consciência que estes lugares
[cavernas e/ou paredes com pinturas e gravuras] têm de ser copiados e
preservados porque estão destinados a desaparecer", contou.
Um pioneiro, mas também um alemão, algo muito
importante temporalmente já que em 1933 Adolf Hitler sobe ao poder e seis anos
mais tarde começa a Segunda Guerra Mundial. O estudo do homem primitivo e a
anatomia comparada serviram de arma ao regime nacional socialista em Berlim
para manipular a opinião pública alemã e comprovar, através de teorias
enviesadas, a supremacia da raça ariana.
Mesmo se Leo Frobenius foi dos primeiros
estudiosos a falar sobre as civilizações africanas, mapeando os usos, costumes,
mitos e arte de diferentes povos no continente, de forma a garantir a
transparência sobre quem foi este homem e a sua proximidade ou não ao regime
alemão, os comissários da exposição pediram uma avaliação independente sobre o
envolvimento de Frobenius com os partidários do nazismo.
"Ele não era simpatizante, mas não se
metia em questões políticas", explicou Egidia
Souto.
As imagens de Frobenius deram a volta ao
Mundo e foram mostradas no anos 30 no próprio Museu do Homem, em Paris, mas
também no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Estima-se que mestres do
século XX como Picasso ou Miró tenham visto estas imagens e se tenam inspirado
para as suas próprias obras.
Estão recenseadas atualmente no Mundo cerca
de 45 milhões de pinturas e gravuras rupestres, espalhadas por 160 países e há
constantemente novas descobertas. Os métodos de estudo hoje estão muito longe
dos decalques ou reproduções feitas pelas equipas de Henri Breuil ou Leo
Frobenius, com recurso a tecnologia de ponta para estudar estas imagens. No
entanto, o objetivo continua a ser o mesmo, não deixar que estas imagens
desapareçam.
E, para isso, os artistas continuam hoje a
interpreta-las, com a exposição a terminar com dois quadros de artistas
contemporâneos: o senegalês Abdoulaye Diallo e a portuguesa Graça
Morais.
A exposição Pre-histomania está patente até 20 de Maio no Museu do Homem, em Paris. ANG/RFI
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