Senegal/Maioria
expulsa oposição e adia presidenciais
Bissau,
06 Fev 24(ANG) - O Parlamento senegalês ratificou , segunda-feira, sem os votos da oposição, o projeto de lei
que visa adiar as eleições para 15 de Dezembro.
O
diploma, contestado pela oposição e sociedade civil, prevê que o Presidente
Macky Sall permaneça no cargo até à tomada de posse do sucessor.
Após a expulsão dos
deputados da oposição, que tentaram impedir a votação no hemiciclo, o diploma
que adia as eleições para 15 de Dezembro foi aprovado por 105 votos a favor e
um contra. Os partidos de oposição falam numa decisão sem precedentes,
sublinhado que se trata de um golpe constitucional e anunciaram que vão
recorrer da decisão junto do tribunal constitucional.
O deputado da oposição,
Abib Daffé, denunciou uma situação “catastrófica” que arruína a imagem do
Senegal, acrescentando que o país terá muita dificuldade em sair do “tsunami no
Estado de direito”.
O diploma prevê ainda
que o Presidente Macky Sall irá permanecer no cargo até à tomada de posse do
sucessor. O chefe de Estado senegalês decidiu adiar as eleições presidenciais
devido à polémica levantada em torno da lista final de candidatos,
invocando o conflito que surgiu entre o Conselho Constitucional e a
Assembleia Nacional após a validação definitiva pelo tribunal de 20
candidaturas.
O analista guineense,
Armando Lona, considera que a decisão demonstra que o Presidente senegalês está
determinado em neutralizar a oposição.
“[Macky Sall] nunca escondeu a preocupação de impedir uma
candidatura da oposição. Trabalhou para neutralizar a oposição, Ousmane Sonko
que está atualmente na cadeia. Entretanto, o partido de Ousmane Sonko avançou
com um plano B, um candidato alternativo [Bassirou Diomaye Faye] que segundo as
sondagens é o favorito para vencer estas eleições. Eu vejo o adiamento [das
eleições] como uma manobra para evitar uma iminente vitória da oposição”,
referiu.
A Comunidade dos Estados
da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana, os Estados Unidos, a União
Europeia, a França, o Reino Unido e a Alemanha, importantes parceiros do
Senegal, manifestaram a sua preocupação.
O analista guineense
considerou que o posicionamento da Comunidade internacional não é contundente,
denunciando ainda a "timidez da CEDEAO".
“Eu tenho as minhas reservas em relação a essas
organizações. A CEDEAO que não se pronunciou quando ouve o relato de prisões
arbitrárias, espancamentos dos opositores, mortes dos manifestantes no Senegal…
Não me surpreende que a CEDEAO continue nessa timidez. A percepção do senegalês
comum é que essas organizações estão a apoiar o regime de Macky Sall”, notou.
Armando Lona aponta
ainda o dedo à União Africana que se pronunciou “sob o capote da formalidade”,
acrescentando que “quem devia ter uma postura mais interventiva, tendo em conta
a gravidade, a violação dos direitos humanos e políticos no Senegal, deveria
ser a CEDEAO.
“Mas essa CEDEAO, nós sabemos, vive com o dilema de dois
pesos e duas medidas. Não vejo de que forma essas declarações poderão sanear a
grave situação que se vive no Senegal. A meu ver, é no combate interno que tudo
se vai decidir”,
concluiu.
Muitas organizações de defesa dos direitos, senegalesas e internacionais, condenaram as restrições à Internet, bem como a suspensão da licença da estação de televisão privada Walf TV. Apelaram às autoridades para que se precavessem contra o uso excessivo da força, detenções arbitrárias e ataques às liberdades. "O Senegal é considerado há muito tempo um modelo de democracia na região. Esta realidade está agora sob ameaça", escreveu a Human Rights Watch. ANG/RFI
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