ONU/Borrell homenageia Guterres e
defende que o mundo estaria "ainda pior" sem a ONU
Bissau, 13 Mar 24(ANG) - O chefe da diplomacia europeia, Josep
Borrell, apoiou hoje o secretário-geral da ONU, António
Guterres, "diante das muitas acusações e ataques que vem
sofrendo", e defendeu que o mundo poderia estar "ainda pior" sem
as Nações Unidas.
Na reunião anual do Conselho de Segurança sobre o reforço da cooperação
entre a União Europeia (UE) e as Nações Unidas, Borrell saiu em defesa da
Organização que reúne 193 Estados-membros, lamentando que a sua Carta
fundadora seja "desrespeitada, distorcida e sequestrada todos os
dias".
"O estado do mundo é profundamente preocupante. Mas poderia ser
ainda pior se não tivéssemos as Nações Unidas, que, através da sua Carta,
continuam a ser uma bússola inafundável para a nossa humanidade", defendeu
o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros.
"Mas a ONU está aqui. Com todos os homens e mulheres que trabalham
para esta organização, entre eles, o secretário-geral, e a quem hoje gostaria
de prestar uma homenagem, apoiando-o diante das muitas acusações e ataques que
vem sofrendo", acrescentou Borrell.
Nos últimos meses, Guterres tem sido duramente criticado pelas
autoridades israelitas, que têm pedido repetidamente a demissão do líder da
ONU depois de este ter afirmado que os ataques do grupo islamita Hamas, em
07 de outubro, "não aconteceram no vácuo", salientando que o povo
palestiniano "é sujeito a uma ocupação sufocante há 56 anos".
Na reunião de hoje, Borrell aproveitou também para defender
a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), que viu o seu
financiamento parcialmente cortado após Israel acusar alguns dos seus
funcionários de envolvimento no ataque do Hamas, que desencadeou o conflito em
curso na Faixa de Gaza.
O chefe da diplomacia europeia frisou que as acusações feitas por Israel
a funcionários da ONU devem ser "provadas", sendo que neste momento
"são apenas acusações".
"A UNRWA existe porque existem refugiados
palestinianos. Não é um presente para os palestinianos, mas uma resposta
às suas necessidades", recordou Borrell, classificando a agência
como a "última tábua de salvação para muitas pessoas" em Gaza.
"Só existe uma maneira de fazer desaparecer a UNRWA: tornar
esses refugiados cidadãos de um Estado palestiniano que coexista com um Estado
israelita", disse, frisando que "muito se
tem falado sobre uma solução de dois Estados, mas sem nenhuma
tentativa séria de torná-la realidade".
Borrell lembrou que são necessárias medidas concretas para se
chegar a uma solução de dois Estados, com base em três princípios: separação
clara entre os dois, garantias de segurança e integração regional.
Além da guerra em Gaza, onde acredita que Israel não está a respeitar o
Direito internacional e onde a "fome está a ser usada como
arma de guerra", Borrell abordou também o conflito da Rússia na Ucrânia,
salientando que resultou de uma “violação flagrante do direito internacional
por parte de um membro permanente do Conselho de Segurança”.
"Desde o início desta guerra, que constitui um ataque à Carta das
Nações Unidas, a UE tem demonstrado a sua total solidariedade para com a
Ucrânia e concedido ajuda económica, financeira e militar excecional",
constatou.
"Este apoio, simbolizado pelo compromisso de tornar a Ucrânia
membro da União Europeia, continuará porque não se trata simplesmente de
preservar um princípio fundamental do Direito internacional, que é a
integridade territorial dos Estados estrangeiros, mas também reflete a
determinação europeia de nos protegermos contra o perigo que a Rússia
representa agora para a nossa paz e segurança", justificou Borrell.
O chefe da diplomacia europeia salientou ainda o forte envolvimento que
a UE mantêm em várias regiões do mundo, desde o Haiti ao Sudão, da Somália
ao Sahel, passando pelo Afeganistão e Myanmar (ex-Birmânia).
"O forte apoio da UE à ONU reflete-se em números: somos o maior
contribuinte financeiro da ONU. E o maior fornecedor mundial de ajuda
humanitária. Não somos apenas pagadores: somos parceiros estratégicos e
trabalhamos juntos em 25 crises, na mediação da paz e no apoio ao
diálogo", sustentou Borrell. ANG/Inforpress/Lusa
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