República da Guiné/Novo primeiro-ministro quer militares mais tempo no poder
Bissau,
13 Mar 24 (ANG) - O novo primeiro-ministro da Guiné, Amadou Oury Bah,
reconheceu, terça-feira, que os militares que tomaram o poder pela força em
2021 devem permanecer em funções pelo menos até 2025, segundo a agência de
notícias francesa (AFP).
A falta de progressos no sentido de uma transferência
de poder e a situação interna tornam a realização de eleições, ainda este ano,
cada vez mais duvidosa.
"Há muitas contingências", disse
Amadou Oury Bah numa entrevista à estação de rádio francesa RFI transmitida
hoje.
"Num contexto de fragilidade económica
e financeira, é preciso trabalhar para a estabilização e a calma política, para
que possamos examinar e aplicar as etapas do calendário com relativa
serenidade", declarou.
"O objetivo é terminar este processo e
penso que 2025 é uma boa altura para o coroar", afirmou.
O primeiro-ministro traçou um quadro
sombrio da situação do seu país, que "enfrenta muitos desafios ligados a
situações calamitosas".
Referindo-se à explosão do principal
depósito de hidrocarbonetos que matou 25 pessoas em Dezembro e causou graves
perturbações na atividade económica, o primeiro-ministro justificou os desafios
que o Governo tem pela frente, devido ao atual panorama em que "a
exigência social que não foi satisfeita durante muito tempo" está agora
"a aumentar novamente", agravada pela inflação e pelo seu
"impacto na vida dos guineenses que lutam para sobreviver".
A Guiné, pobre apesar dos consideráveis
recursos minerais e naturais, sofre de falta de combustível e de cortes de
eletricidade.
Este país tem vindo a ser governado por
regimes autoritários.
Em Fevereiro, realizou-se uma greve geral
para obter a redução do preço dos produtos alimentares de base, o fim da
censura dos meios de comunicação social e a libertação de um sindicalista da
imprensa. Foi o primeiro movimento do género durante a ditadura.
A crise é acompanhada de uma repressão de
todas as formas de protesto, da proibição de manifestações, da censura de
várias estações de televisão e de rádio. Os líderes da oposição foram, também,
detidos, perseguidos ou forçados ao exílio.
Os militares que derrubaram o Presidente
civil Alpha Condé em Setembro de 2021 comprometeram-se perante a CEDEAO a
entregar o poder a civis eleitos até ao final de 2024, no final de um período
dito de "transição".
O primeiro-ministro fez eco do argumento
dos militares de que precisavam de tempo para reconstruir o Estado e levar a
cabo reformas profundas para pôr termo à instabilidade crónica e ultrapassar
"alguns atrasos" na aplicação do calendário.
A Guiné é um dos países da África Ocidental
onde os militares tomaram o poder pela força desde 2020. Também no Mali, a
junta renegou o seu compromisso de abandonar o poder no início de 2024. No
Burkina Faso, o regime militar indicou que a realização de eleições no verão de
2024, como anteriormente prometido, não era uma "prioridade".
No Níger, após o golpe de Estado de Julho
de 2023, os militares limitaram-se a uma vaga declaração de transição de três
anos, que nunca foi renovada. ANG/Angop
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