Sudão/Guerra provoca maior degradação da situação alimentar
em África em 2023
Bissau, 24 Abr 24 (ANG)
- O Sudão é o país africano onde a segurança alimentar mais se deteriorou, com
um ano de conflito a acrescentar 8,6 milhões, para 20,3 milhões, de pessoas em
insegurança alimentar aguda, o segundo nível mais elevado da FAO.
Esta situação deverá,
ainda assim, piorar nos próximos meses, de acordo com o Relatório Mundial sobre
a Crise Alimentar (GRFC, na sigla em inglês) de 2023, elaborado por uma rede de
16 agências, e hoje divulgado em Roma, cidade que acolhe a sede da Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
"O conflito no
Sudão criou a maior crise de deslocação interna do mundo, com um impacto atroz
sobre a fome e a nutrição, em especial para as mulheres e as crianças",
sublinha o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no prefácio do
relatório.
A degradação da situação
alimentar no Sudão reflecte-se no retrato de toda a região da África Oriental,
mas o impacto persistente da seca sem precedentes de 2020-2023, as inundações
provocadas pelo El Niño, o aumento dos conflitos e a contínua instabilidade
macroeconómica exacerbaram os já elevados níveis de insegurança alimentar aguda
no conjunto dos oito países da região.
Um total de 64,2 milhões
de pessoas, ou 24% da população analisada, enfrentaram níveis elevados de
insegurança alimentar aguda em 2023 na região, aponta o relatório, sublinhando
ainda a existência de 20,7 milhões de pessoas deslocadas - 15,9 milhões de
deslocados internos e 4,8 milhões de refugiados e requerentes de asilo.
O relatório dá conta de
12,1 milhões de crianças com subnutrição aguda, das quais 3 milhões sofrem da
forma mais grave em oito países.
O Sudão tornou-se a
maior crise alimentar da região em termos de números e registou a maior
deterioração anual devido ao início do conflito em 15 de Abril de 2023.
Burundi, Djibuti,
Somália e zonas comparáveis do Quénia registaram igualmente uma deterioração
significativa das situações de insegurança alimentar aguda.
No Sudão do Sul, a
situação permaneceu persistentemente terrível, com 63% da população a registar
níveis elevados de insegurança alimentar aguda.
A análise à Etiópia no
relatório relativo a 2023 não é directamente comparável com a de 2022, mas
integra, com o Sudão, Sudão do Sul e Somália, o grupo de países com
"grandes crises alimentares prolongadas", na expressão do GRFC.
Na região da África
Central e Austral, a República Democrática do Congo (RDC) continuou em 2023 a
albergar a maior crise alimentar no conjunto dos 13 países, com 25,8 milhões
pessoas a enfrentar a situação de insegurança alimentar aguda, mais de metade
dos 49,6 milhões de pessoas, ou 21% da população analisada em toda a sub-região
do continente.
Também aqui, o número de
deslocados - 10,1 milhões de pessoas em 13 países - foi fortemente alimentado
pela crise de segurança na província congolesa do Norte do Kivu.
O relatório regista um
total de 3,9 milhões de crianças com subnutrição aguda em cinco países da
África Central e Austral a braços com a crise alimentar, das quais 1,2 milhões
sofrem da forma mais grave de emaciação.
Se a RDC é o país em
toda a África com o maior número de pessoas em situação de insegurança
alimentar, a República Centro-Africana é o que enfrenta a maior crise em termos
de percentagem da população (44%, percentagem equivalente a 2,7 milhões de
pessoas).
Alguns países, como o
Malawi e o Zimbabwe, assim como áreas localizadas de Moçambique, nomeadamente a
província de Cabo Delgado, e da Zâmbia, experimentaram um agravamento da
insegurança alimentar aguda em comparação com o relatório de 2022.
Em contrapartida, a RDC,
Essuatíni, Lesoto e Namíbia registaram ligeiras melhorias.
A escalada dos conflitos
na África Ocidental e no Sahel, a terceira região africana subsariana isolada
no relatório, continuou a alimentar "níveis elevados de insegurança
alimentar aguda em 2023", ainda que a percentagem global da população
afectada na sub-região (11%) tivesse diminuído, por comparação com 2022 (12,5%
da população analisada), o pior ano desde que este relatório começou a ser
feito, há oito edições.
O estudo registou 44,3
milhões de pessoas em insegurança alimentar aguda no conjunto de 14 países da
sub-região.
O número de deslocados
ascendeu a 9,7 milhões de pessoas em 13 países em situação de crise alimentar
em 2023 - 7,5 milhões de deslocados internos e 2,2 milhões de refugiados e
requerentes de asilo.
O número de crianças com subnutrição aguda em 14 países em crise alimentar ascendeu a 14 milhões, das quais 3,9 milhões sofriam no ano passado da forma mais grave de emaciação. ANG/Angop
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