Venezuela/ONG registou no primeiro trimestre 418 ataques contra ativistas dos direitos humanos
Bissau, 30 Abr 24 (ANG) – O Centro de Defensores e Justiça (CDJ) registou, no primeiro trimestre do ano, 418 ataques contra ativistas dos direitos humanos na Venezuela, situação que a ONG diz evidenciar a sistematização de uma política de criminalização no país.
“Entre
janeiro e março, foram registados 301 casos de estigmatização, 62 casos de
intimidação e assédio, 45 ameaças, três ataques digitais, duas rusgas, dois
processos judiciais, uma detenção arbitrária e outros dois”, explica o
relatório “Situação das pessoas que defendem os direitos humanos na Venezuela”.
Segundo
a ONG, o encerramento do espaço cívico e democrático aprofundou-se durante o
primeiro trimestre de 2024, num contexto pré-eleitoral, afetando as ações dos
ativistas e organizações da sociedade civil.
Os
ataques, explica, "comprometem e afetam o direito a defender" e
representam "um aumento de 85% em relação ao mesmo período de 2023, quando
foram registadas 226 situações”.
Segundo
o CDJ, em janeiro registaram-se 97 ataques a ativistas, em fevereiro 230 e em
março 91, em contraste com os 105, 63 e 58, registados nos mesmos meses do ano
passado, respetivamente.
“O
Estado venezuelano aplicou os padrões repressivos que compõem uma política de
criminalização, repressão e controlo social contra quem está na linha da frente
da ação, defendendo, exigindo e promovendo os direitos humanos”, explica.
O CDJ
diz existir um discurso e campanhas de estigmatização que apontam
sistematicamente as ONG como terroristas, agentes desestabilizadores e
traidores. Estas campanhas têm o “objetivo de neutralizar as organizações e os
ativistas, identificando-os, segundo a narrativa do governo, como inimigos da
pátria”.
“Além
disso, a estigmatização manifesta-se como um elemento que leva à materialização
de outros tipos de agressões, como ameaças, atos de assédio e intimidação, e
detenções arbitrárias”, sublinha o relatório.
O CDJ
diz ainda que o Governo tem tentado vincular as ONG a atividades criminosas,
desestabilização e atentados contra a paz do país, assim como associá-las a
partidos da oposição, para pôr em causa a sua independência, fazendo uso de
leis restritivas e do direito penal para os processar, perseguir e criminalizar
sob a lógica do inimigo interno.
Entre
as vítimas dos ataques, segundo o CDJ, estão o Programa Venezuelano de Educação
e Ação em Direitos Humanos – Provea, a Espaço Público, a Transparência
Venezuela, o Foro Penal, o Controlo Cidadão, a Amnistia Internacional, a Sem
Mordaça e o Instituto de Imprensa e Sociedade – Venezuela, entre outras.
Por
outro lado, explica, os principais autores dos atentados foram membros do
Executivo Nacional, ministros, deputados da Assembleia Nacional, assim como
instituições que fazem parte do sistema de Justiça.
“Os
programas de rádio e televisão, os meios digitais, os membros do sistema
nacional de comunicação social pública e os meios de comunicação social
associados ao Estado, continuam a ser utilizados como plataforma para campanhas
de estigmatização e apelos à violência”, sublinha.
No
relatório, o CDJ explica que, em 12 de janeiro de 2024, o parlamento apresentou
um projeto de Lei de Fiscalização, Regularização, Desempenho e Financiamento
das ONG e Grupos Afins, e que, em 24 de março, o Executivo anunciou a criação
de um Alto Comissariado do Estado contra o Fascismo e o Neofascismo.
“Ambas
as propostas constituem os mais recentes avanços do Estado no aprofundamento do
encerramento do Espaço Cívico Democrático. Se aprovadas, põem em risco a
operacionalidade legal das organizações de direitos humanos e da sociedade
civil na Venezuela, que ficarão expostas a tentativas de criminalização do seu
trabalho”, lê-se no documento. ANG/Lusa
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