Nigéria/Pelo menos 90 manifestantes detidos
com bandeiras russas
Bissau,
06 Ago 24 (ANG) - A polícia nigeriana afirmou, hoje, ter detido mais de
90 manifestantes que exibiam bandeiras russas, numa altura em que o país entra
no sexto dia de protestos provocados pelas dificuldades económicas do país.
O
porta-voz da polícia, Olumuyiwa Adejobi, disse hoje à agência de notícias
francesa AFP que mais de 90 manifestantes "foram detidos com bandeiras
russas".
Num
comunicado publicado nas redes sociais, o porta-voz do serviço de informações
internas da Nigéria (DSS) disse que o DSS tinha "detido alguns alfaiates
no Estado de Kano responsáveis pelo fabrico das bandeiras russas distribuídas
na região", e que estava a conduzir uma investigação.
Milhares
de pessoas têm-se reunido na Nigéria desde quinta-feira para protestar contra a
subida dos preços e a má governação, numa altura em que o país mais populoso de
África atravessa a sua pior crise económica desde há uma geração.
Segundo
a agência espanhola EFE um total de 873 pessoas foram presas até agora, segundo
as autoridades.
A
mobilização diminuiu nos dias que se seguiram à repressão policial, mas
centenas de manifestantes ainda saíram às ruas na segunda-feira nos estados do
norte, nomeadamente Kaduna, Katsina e Kano, bem como no estado de Plateau, no
centro do país.
Jornalistas
da AFP e testemunhas viram alguns manifestantes a agitar bandeiras russas, um
gesto fortemente condenado pelo chefe do exército nigeriano.
O
Norte da Nigéria tem laços culturais, religiosos e socioeconómicos estreitos
com os países vizinhos da região do Sahel, que assistiram recentemente a uma
série de golpes de Estado liderados por militares aliados da Rússia.
"Os
indivíduos que treinam outros para transportar bandeiras russas na Nigéria, a
soberania da Nigéria, estão a atravessar a linha vermelha e não o
aceitaremos", avisou o Chefe do Estado-Maior do Exército, general
Christopher Musa, num briefing em Abuja, na segunda-feira.
Por
seu lado, a embaixada russa na Nigéria negou qualquer envolvimento no caso.
"O Governo da Federação Russa e os funcionários russos não estão
envolvidos nestas atividades e não as coordenam de forma alguma", declarou
a embaixada, num comunicado publicado no seu sítio da Internet.
"As
intenções de alguns manifestantes de agitar bandeiras russas são escolhas
pessoais e não refletem de forma alguma a posição oficial ou a política do
Governo russo nesta matéria", acrescentou.
Na
semana passada, a ONG Amnistia Internacional acusou a polícia de ter matado
pelo menos 13 manifestantes no primeiro dia de protestos, enquanto a polícia
nigeriana afirmou que sete pessoas tinham morrido, negando qualquer
responsabilidade.
Num
discurso transmitido pela televisão no domingo, o Presidente Bola Ahmed Tinubu
apelou ao fim das manifestações e ao "fim do derramamento de sangue",
mas os organizadores dos protestos prometeram continuar a mobilização.
O
custo de vida na Nigéria tem aumentado desde que o Presidente chegou ao poder,
em maio de 2023, com a inflação a atingir um máximo histórico de 33,95% em
junho passado.
Esta
situação fez subir os preços de produtos básicos como o arroz, o milho e o
inhame, tornando-se incomportáveis para muitos nigerianos.
Todas
as medidas de Tinubu - como a distribuição gratuita de cereais e o aumento do
salário mínimo - não conseguiram atenuar o impacto na população de medidas como
a supressão do subsídio aos combustíveis.
A
Nigéria é o país mais populoso de África (mais de 213 milhões de pessoas) e
também um dos seus principais produtores de petróleo, bem como uma das maiores
economias do continente.
No
entanto, quatro em cada dez nigerianos vivem abaixo do limiar da pobreza, de
acordo com o Banco Mundial.
A inflação é uma das causas da grave crise de desnutrição nos estados do norte do país, que levou a um "aumento sem precedentes de admissões de crianças gravemente desnutridas" com complicações potencialmente fatais, segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), em junho passado. ANG/Lusa
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