Cultura/Curta-metragem de Inês Ventura revela a esperança que
ainda resiste na Guiné-Bissau
Bissau,28 Out 24(ANG) - A realizadora Inês Ventura,
autora da curta-metragem "Contra a Maré", considera que a situação na
Guiné-Bissau é difícil mas ainda há quem resista e mantenha a esperança num
país que não deve estar sujeito aos parâmetros ocidentais.
"Trata-se de uma curta-metragem de documentário que acompanha o quotidiano de pessoas que nasceram, vivem e sonham na Guiné-Bissau. Pela Guiné-Bissau", explica Inês Ventura.
A realizadora quis documentar "um sonho (de país)
ora de esperança, ora adiado, e que carrega nele o seu passado histórico
colonial, que resiste ao destino traçado pelo Ocidente e pelas narrativas por
ele escritas, quebrando a ideia de ser um país eternamente adiado, para que se
construa uma sociedade com sentido para quem nela vive".
"Contra a Maré" partiu de um convite que Inês
Ventura e o fotojornalista Mário Cruz, responsável pela fotografia do
documentário, receberam do Instituto Marquês de Valle Flôr e da Fundação Fé e
Cooperação (FEC), organizações não-governamentais para o desenvolvimento (ONGD)
com projetos em curso na Guiné-Bissau.
"As duas ONGD estão a trabalhar em conjunto numa
campanha que se chama 'tODxS' pela Educação para o Desenvolvimento e a
Cidadania Global', que procura criar uma consciencialização das pessoas para os
desafios do desenvolvimento global", detalha Inês Ventura.
A curta-metragem "foi um desafio muito grande",
que foi tentar incluir nos inicialmente 15 minutos previstos de duração -- e
que ficaram em quase 19 -, os 14 depoimentos em temas tão vastos como a
educação, saúde, direitos humanos e ambiente.
"A ideia foi basicamente através desta curta mostrar
qual é que é o estado atual da Guiné-Bissau, não esconder os problemas
atuais" e Inês Ventura destaca que a situação atual do país "é muito
difícil".
De entre os depoimentos recolhidos, a realizadora diz que
são os mais jovens a mostrar mais esperança no futuro do país.
"Os jovens estão a tentar resgatar os ideais de
Amílcar Cabral. A resgatar essa vontade de que o país seja uma coisa diferente.
Espero que (neste documentário) consiga mostrar que existe uma vontade ainda
por parte da sociedade civil. Porque num país onde o Estado está ausente nas
necessidades mais básicas dos seus cidadãos, é natural que haja uma
desesperança, mas há uma resiliência ainda bastante grande, pelo menos das
pessoas que ouvimos para esta curta-metragem", vinca.
Questionada se também tem esperança, como os jovens que
ouviu, Inês Ventura responde que é "uma pergunta difícil de
responder".
"Não é fácil responder. Foi também a primeira vez
que eu estive na Guiné-Bissau. Eu, se calhar poderei ter-me deixado contaminar
um bocadinho pela esperança desta camada mais jovem, digamos assim. Mas sei que
vai ser muito difícil, porque realmente a situação política não atravessa
propriamente uma fase muito saudável. Havendo mesmo, se calhar, creio, uma
crise democrática, com alguns atentados à liberdade de expressão", nota.
Inês Ventura destaca o trabalho da Liga Guineense dos
Direitos Humanos.
"Eles têm feito um trabalho excelente, de denúncia
do que se tem passado E acho que existem bastantes movimentos de resistência
nesse sentido, de denúncia do que se está a passar neste momento na
Guiné-Bissau. E espero honestamente que consigam, mas sei que vai ser muito
difícil", antecipa.
Com produção da Narrativa, do Instituto Marquês de Valle
Flôr (IMVF) e da Fundação Fé e Cooperação (FEC), a curta-metragem "Contra
a Maré" estreia neste domingo no Cinema Fernando Lopes, em Lisboa.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o
parlamento em dezembro do ano passado, apenas seis meses depois das eleições
legislativas de 04 de junho, contra o prazo de 12 meses estabelecido na
Constituição para esse efeito, abrindo uma nova crise política no país.
O chefe de Estado marcou as eleições legislativas para 24
de novembro próximo, mas a um mês do escrutínio ainda não foi divulgada a lista
oficial dos partidos e coligações que concorrem.ANG/Lusa
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