Suécia/Criminosos recrutam pelas redes menores de 15 anos
para matar rivais
Bissau, 29 Nov 24 (ANG) - Gangues
na Suécia têm recrutado menores que recém entraram na adolescência, ao abrigo
de sanções criminais, para matar rivais.
A polícia tem interceptado um número crescente
de trocas de mensagens criptografadas entre jovens criminosos e crianças.
“Irmão, estou esperando impacientemente pelo
meu primeiro corpo”, escreveu um menino de 11 anos no Instagram. “Continue
motivado. Esse dia virá”, respondeu seu interlocutor, de 19 anos.
Nesta troca de
mensagens, com a data de 16 de dezembro de 2023 e consultada pela AFP,
o jovem adulto prometeu 150 mil coroas suecas (R$ 82,2 mil) à criança para
cometer um homicídio, fornecendo-lhe roupa e transporte até ao local do crime,
segundo um relatório de investigação preliminar da polícia de Värmland, no
centro-oeste do país.
Neste caso, quatro
homens de 18 a 20 anos são acusados de recrutar quatro crianças e
adolescentes de 11 a 17 anos para uma gangue. Todos foram presos antes de agir.
O relatório
preliminar está repleto de capturas de tela de jovens adolescentes atirando uns
nos outros com armas de fogo, alguns sem camisa, outros encapuzados.
Questionada pela polícia, a criança admitiu ter escrito a mensagem para parecer
“legal” e “para não demonstrar medo”.
Mas este caso não é
isolado. A Suécia tem lutado há vários anos para conter a violência entre
gangues que disputam o controle do tráfico de drogas e que se enfrentam com
tiroteios e ataques com explosivos caseiros. No ano passado, 53 pessoas foram
mortas em trocas de tiros, incluindo vítimas inocentes, neste país de 10,5
milhões de habitantes.
A organização das
gangues na Suécia tornou-se mais complexa: os líderes operam a partir do
exterior através de intermediários, que recrutam pelas redes sociais
adolescentes com menos de 15 anos – a idade da maioridade penal no país. “Está
organizado numa espécie de mercado. As missões são publicadas em fóruns de
discussão e onde os interessados são cada vez mais jovens”, sublinhou o chefe
da polícia nacional, Johan Olsson, durante uma coletiva de imprensa em outubro.
Existem também
influenciadores do crime, como os “crimefluencers” no TikTok, que, além de
exibirem a sua vida criminosa, facilitam os contatos entre mandantes e
assassinos, explica à AFP Sven Granath, professor de
criminologia na Universidade de Estocolmo.
Entre janeiro e
agosto de 2023 e este mesmo período de 2024, o número de casos em que crianças
menores de 15 anos são suspeitas de homicídio, tentativa de homicídio e
preparação para homicídio aumentou de 31 para 102, segundo números do
Ministério Público.
Estes jovens têm, com
frequência, dificuldades na escola, problemas de atenção, problemas de
dependência ou já infringiram a lei, explica o professor. “São recrutados em
conflitos com os quais não têm qualquer ligação, como mercenários” e sem
necessariamente terem pertencido a uma gangue antes, sublinha.
As próprias crianças
às vezes se candidatam para essas missões, aponta relatório do Conselho
Nacional de Prevenção ao Crime (BRA, na sigla em sueco). "Hoje, todo mundo
quer se tornar um assassino. É incrivelmente triste ver que é isso que os
jovens [nestes círculos] aspiram", disse à AFP Viktor
Grewe, 25 anos, um ex-criminoso. Ele próprio esteve pela primeira vez em
contato com a polícia aos 13 anos.
Os jovens glorificam
a vida criminosa, amplamente divulgada no TikTok, afirma Grewe. As motivações
são diversas: adrenalina, sentimento de pertencimento ao grupo, remuneração
generosa.
Para Tony Quiroga,
policial encontrado pela AFP em Örebro, cidade 200 quilômetros
a oeste de Estocolmo, trata-se de uma “exploração implacável dos jovens que
estão apenas começando suas vidas”. Os líderes de gangues e intermediários “não
querem arriscar nada. Eles se escondem atrás de pseudônimos nas redes sociais e
criam vários filtros" entre eles e os jovens assassinos, disse o policial.
Na Suécia, as
crianças com menos de 15 anos não podem ser condenadas criminalmente. Em caso
de crimes, elas são acolhidas por serviços sociais.
Em Örebro,
voluntários viajam pelos subúrbios à noite para alertar os jovens sobre o risco
de ficarem sob a influência de gangues. Viktor Grewe, que decidiu abandonar o
crime aos 22 anos, explica que estes jovens não acreditam no futuro,
convencidos de que não viverão além dos 25 anos.
Segundo o relatório
do BRA, o recrutamento responde à lógica empresarial. Para subir na hierarquia
de uma rede criminosa, os adolescentes de 15 anos devem ter os "seus
pequeninos”.
Para atraí-los,
exibem camaradagem, roupas de marca e promessas de recompensas, e alegam
lealdade inabalável.
A criança primeiro será utilizada para entregar uma sacola em algum lugar, e aos poucos é conduzida para tarefas mais sérias, sublinha o relatório.ANG/RFI/AFP
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