França/Imprensa critica 'aposta no caos' feita por Marine Le Pen ao derrubar governo
Bissau, 05 Dez 24 (ANG) - Os
jornais franceses repercutem nesta quinta-feira (5) a queda do governo do
primeiro-ministro Michel Barnier, destituído por uma moção de censura aprovada quarta-feira
por ampla maioria das bancadas de esquerda, extrema direita e algumas siglas
independentes na Assembleia de Deputados.
O diário
econômico Les Echos vê nesta queda uma "aliança de
extremos", que abre um período de forte incerteza política. Hoje à noite,
o presidente Emmanuel Macron fará um pronunciamento em cadeia nacional de rádio
e TV e, na avaliação do Les Echos, deverá nomear rapidamente um
novo primeiro-ministro, o que não mudará a realidade: a falta de maioria
parlamentar para apoiar os projetos do poder executivo. Um pacto para ampliar a
base governista torna-se absolutamente necessário.
Todos os jornais
cogitam nomes que circulam para o cargo de chefe de governo e dois ou três
aparecem no topo da lista: Sébastien Lécornu, político do partido de Macron e
que ocupava o cargo de ministro da Defesa até a destituição; François Bayrou,
líder do MoDEM, partido de centro da base do governo; e o socialista Bernard
Cazeneuve, que já dirigiu o governo durante o mandato de François Hollande
(2012-2017).
O Libération sublinha
que a França não passava por uma crise semelhante desde 1962, quando o
Parlamento da época derrubou o então primeiro-ministro Georges Pompidou. O
jornal progressista considera que Macron "precisa encontrar, o mais
rapidamente possível, uma resposta a essa grave crise política".
A votação demonstrou
que a líder da extrema direita, Marine Le Pen, à frente de uma bancada de 143
deputados, tem poder para desestabilizar qualquer governo. Mas em seu
editorial, o Libération questiona se ela não teria cometido o
erro fatal que enterra seus planos de chegar um dia à presidência.
"Enfraquecida
pelo risco de inelegibilidade que paira sobre ela (em um processo judicial por
desvio de verbas do Parlamento Europeu), Marine Le Pen apostou no caos",
aponta o editorial. "Os eleitores do partido Reunião Nacional (RN) exigiam
isso, mas a base de Marine Le Pen não será suficiente para ela chegar ao
Palácio do Eliseu", continua o texto.
"A líder de
extrema direita, que passou os últimos anos tentando construir uma imagem de
dirigente respeitável, voltou a demonstrar que é uma política antissistema. Ela
empurrou o país para um período de incertezas políticas, econômicas e
financeiras, e corre o risco de tornar muito impopular", conclui o
editorial do Libération.
Segundo o Le
Monde, Emmanuel Macron, que havia sido isolado pela decisão unanimemente
criticada de dissolver a Assembleia Nacional em junho, volta a ser o centro do
poder, uma vez que cabe ao presidente da República nomear um novo
primeiro-ministro.
Há 15 dias, Macron já
antecipava a queda de Barnier e nos últimos dias, em viagem à Arábia Saudita,
ele parecia estar tranquilo sobre a decisão a tomar. Políticos da base
governista manifestam que o melhor caminho a seguir é atrair o Partido
Socialista para o governo, como se esta fosse a única forma de enfraquecer o
poder de Marine Le Pen.
Para o Le Monde, "Macron não tem o direito de errar". ANG/RFI
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