Afeganistão/ Talibãs recusam autoridade
do Tribunal Penal Internacional
Bissau, 20 Fev 25 (ANG) - O governo afegão dos
talibãs recusou hoje reconhecer o Tribunal Penal Internacional (TPI), que
acusou de não ter resolvido os alegados crimes de guerra no Afeganistão durante
a presença das tropas internacionais.
Os talibãs consideraram que o tribunal com
sede em Haia, nos Países Baixos, funciona com preconceitos políticos, segundo
um comunicado citado pela agência espanhola EFE.
O Afeganistão aderiu ao TPI em 2003, dois
anos depois de os Estados Unidos terem invadido o país e derrubado o primeiro
regime dos talibãs.
O governo "não reconhece qualquer
obrigação para com o Tratado de Roma ou para com a instituição denominada
'Tribunal Penal Internacional', que foi criada ao abrigo do mesmo", disse
o porta-voz dos talibãs, Hamdullah Fitrat, num comunicado.
A posição do governo de Cabul, que chama ao
Afeganistão um "Emirado Islâmico", baseia-se na sua adesão aos
"valores religiosos e nacionais" no âmbito da Sharia, a lei islâmica,
disse Fitrat.
O governo talibã argumentou que o
Afeganistão, que tem sofrido intervenções estrangeiras e conflitos, não deveria
estar sujeito a uma instituição que, segundo o porta-voz, tem ignorado em
grande medida as alegadas atrocidades cometidas pelas forças internacionais.
Os talibãs acusam o TPI de inação em relação
aos alegados "crimes de guerra perpetrados no Afeganistão pelas forças de
ocupação e seus aliados", citando exemplos como "a destruição de
aldeias, instituições educativas, mesquitas, hospitais e cerimónias de
casamento".
O governo talibã referiu também que várias
grandes potências mundiais não são signatárias do TPI, como os Estados Unidos
ou a Rússia, questionando a razão pela qual o Afeganistão deveria estar sujeito
à jurisdição do tribunal.
"É injustificado que uma nação como o
Afeganistão, que historicamente tem sofrido intervenções estrangeiras e
conflitos, esteja sujeita à sua jurisdição", afirmou.
Esta posição surge depois de o procurador do
TPI, Karim Khan, ter pedido no final de janeiro mandados de captura para o
líder supremo dos talibãs, Haibatullah Akhundzada, e para o presidente do Supremo
Tribunal, Abdul Hakim Haqqani.
Os dois são suspeitos de perseguição com base
no género no Afeganistão.
O procurador alegou ter "motivos
razoáveis" para considerar ambos "criminalmente responsáveis"
por um crime contra a humanidade em todo o Afeganistão desde 15 de agosto de
2021.
Nessa data, os talibãs tomaram Cabul depois
de derrotarem as tropas afegãs numa ofensiva relâmpago após a retirada das
forças internacionais.
Desde que chegaram novamente ao poder, os
talibãs, segundo o procurador, foram responsáveis pela perseguição de raparigas
e mulheres afegãs e de pessoas que consideravam "não conformes com as suas
expectativas ideológicas de identidade ou expressão de género" ou
"aliadas de raparigas e mulheres".
A posição do regime que governa o Afeganistão
surge no meio da preocupação internacional com o historial dos talibãs em
matéria de direitos humanos.
Desde o regresso ao poder dos talibãs,
numerosos relatórios das Nações Unidas e organizações de direitos humanos documentaram
restrições aos direitos das mulheres, incluindo limitações à educação e ao
emprego.
O TPI, criado pelo Tratado de Roma de 1998,
investiga e julga indivíduos acusados dos crimes de genocídio, crimes de
guerra, crimes contra a humanidade e crime de agressão.
Atualmente, é reconhecido por 125 países.ANG/Lusa
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