Vaticano/Próximo Papa pode ser africano e isso reconheceria a importância na região
Bissau, 25 Abr 25 (ANG) - O Conselheiro Geral Espiritano Tony Neves
declarou hoje à Lusa considerar provável que o próximo Papa seja africano e que
isso permitiria reconhecer, mundialmente, a importância que a Igreja
tem no continente, onde o número de crentes está a aumentar.
Na opinião do padre, que nas últimas décadas cumpriu missões
em vários países africanos, o próximo Papa pode bem ser o
cardeal Peter Turkson, do Gana, ideia que já defendia por altura do
conclave que elegeu Jorge Mario Bergoglio, que escolheu o nome
Papal de Francisco, em honra de São Francisco de Assis, fundador
da Ordem dos Franciscanos.
A possível eleição de um Papa africano surge numa conjuntura em
que a "Igreja se está a deslocar geograficamente, não sendo mais focada na
Europa nem na América do Norte", sendo hoje mais "latino-americana,
africana e asiática" devido ao aumento do número de crentes nestas
regiões, tendência que se acentuou nos últimos 12 anos.
Um Papa africano iria significar muito para África, assim como
significou para a América Latina ter o Papa Francisco, porque, na prática, isso
seria um "reconhecimento à escala do mundo do papel que a Igreja Católica
desempenha no continente".
"Eu acho que seria muito bom para a Igreja que o próximo
Papa fosse ou africano ou asiático, uma vez que acabamos de ter um
latino-americano. Essa é a minha perspetiva", salientou.
Na sua ótica, a Igreja Católica em África tem agora um peso
muito grande, em termos políticos, sociais, económicos, culturais.
"Eu acho que a Igreja em África, se tivesse um Papa
[africano], talvez pudesse diminuir as realidades de pobreza, de
injustiça, de violação dos direitos humanos, de falta de democracia,
etc", declarou.
Tony Neves, que esteve em Angola vários anos e que, como
conselheiro geral, acompanha os missionários espiritanos em países de língua
portuguesa e espanhola e é responsável pela comunicação na congregacao, disse
conhecer relativamente bem todos os cardeais africanos que estarão
presentes no próximo Conclave, destacando que há três que, pelo seu perfil,
podem ser eleitos.
O primeiro, indicou, seria o cardeal ganês Peter Turkson, um
homem experiente e capaz e que pode dar continuidade àquilo "que o Papa
Francisco lançou".
"Existem ainda dois outros cardeais que também são
muito falados, eventualmente por outras razões, por estarem menos na linha
[de pensamento] do Papa [Francisco] e mais numa linha tradicional, e aí
refiro o cardeal de Kinshasa, na República Democrática do
Congo, Fridolin Ambongo Besungu, que é o presidente da Conferência
dos Bispos de África e Madagáscar, portanto alguém que tem um protagonismo
enorme em África, e que por isso é alguém que pode ser
considerado papável", contextualizou.
"E depois temos o eterno cardeal [Robert] Sarah [da
Guiné-Conacri], que faria as delícias de uma ala muito conservadora da
Igreja, mas que é sempre um nome que aparece, nomeadamente nas redes sociais.
Apesar de em junho fazer 80 anos [idade limite para votar e ser eleito no
conclave]", citou.
Segundo explicou, o cardeal Ambongo é uma espécie de
"meio-termo" entre os três cardeais africanos citados.
Contudo, por exemplo, em todas as questões ligadas à
homossexualidade este cardeal democrático-congolês marcou uma rutura face
ao Santo Padre, em nome dos bispos de África, que representava, e foi a Roma
dizer que não aceitava o documento "Fiducia Supplicans" que o
Papa Francisco assinou no Dicastério para a Doutrina da Fé publicado em
2023, onde, entre outras coisas, havia a abertura a bênçãos a casais
homossexuais, recordou o pároco.
No entanto, se Tony Neves pudesse escolher alguém, o eleito
seria o arcebispo de Bangui, na República Centro-Africana, Dieudonné
Nzapalainga, que classifica de alguém "extremamente culto" e que
"poderia ser um excelente Papa".
África representa 20% dos 1,4 mil milhões de católicos do mundo,
segundo os dados do gabinete de estatística do Vaticano.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira, aos 88 anos, depois de
estar internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo
recebido alta a 23 de março.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no
Vaticano.
As cerimónias fúnebres terão lugar no sábado, às 10:00 locais
(09:00 em Lisboa), na Praça de São Pedro, e o Presidente de Portugal, Marcelo
Rebelo de Sousa, estará presente.
O corpo será depois trasladado para a Basílica de Santa Maria
Maggiore, em Roma, onde o Papa será sepultado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi
o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica. ANG/Lusa

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