Cultura/Guiné-Bissau sem museu para regresso de obras
de arte
Bissau, 26 Mai 25 (ANG) - O regresso dos bens culturais
africanos ao continente esteve em debate na reunião anual da CEDEAO, em Acra,
no Gana.
Entre os dias 19 e 22 de Maio, Acra foi palco
de uma reunião que quer fazer história no regresso do património cultural
africano aos seus países de origem. No centro dos debates esteve o Comité
Regional da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), que
reuniu especialistas e representantes governamentais para avaliar o que já foi
feito, o que falta fazer no quadro do plano de acção 2025–2029.
A iniciativa, liderada pela direção da
cultura do departamento de capital humano e assuntos sociais da CEDEAO, procura
reforçar os mecanismos de cooperação entre os Estados membros no processo de
devolução de bens culturais que se encontram, na sua maioria, em museus e
instituições fora do continente africano.
Entre os participantes, destacou-se Mamadu
Jao, antigo director do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) da
Guiné-Bissau e actual membro do comité regional de seguimento para retornos de
bens culturais aos países de origem da CEDEAO.
Para Mamadu Jao, o debate sobre os bens
culturais é também um espelho das falhas internas na preservação do património.
“Penso que é falta de sensibilidade dos
governantes ao longo dos anos”, lamentou, referindo-se à ausência de um
museu etnográfico na Guiné-Bissau. “Durante
o período colonial existia um. Desapareceu com o conflito militar e nunca mais
houve qualquer esforço sério para o recuperar", acrescentou.
Segundo o investigador, muitas das peças que
pertencem à história da Guiné-Bissau estão encaixotadas em
armazéns: “Guardadas
em sacos de 50 kg, sem qualquer exposição, invisíveis. É uma questão de vontade
política”; sublinha.
Mamadu Jao acredita que a recuperação dos
bens culturais deve envolver mais do que governos: “Todos falam da diversidade cultural como riqueza.
Mas essa riqueza precisa de ser visível: nos museus, nas escolas, nos
programas educativos. As crianças têm o direito de conhecer a sua história”,
defende.
A Bienal de Arte e Cultura que está a
decorrer este mês na Guiné-Bissau foi destacada como um passo na direcção certa
e, segundo Mamadu Jao, “é
uma iniciativa louvável que pode mostrar que a cultura é também identidade
nacional. A Bienal pode ter um papel importante na visibilidade da nossa
diversidade”.
A reunião de Acra permitiu fazer um ponto de
situação sobre o que já foi conseguido desde 2024 e delinear novas metas no
âmbito do plano até 2029. Entre as recomendações está a necessidade de garantir
que os países que recebem de volta os bens tenham condições adequadas para os
conservar; desde legislação e infraestruturas até à formação de técnicos
especializados.
Mamadu Jao aponta exemplos
encorajadores: “Países
como a Nigéria, o Benim e o Senegal já deram passos importantes. Mas o regresso
das peças não pode ser simbólico. É preciso preparar o terreno”, afirma.
ANG/RFI

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