RDC/Milícias que apoiam o exército cometem abusos contra população
Bissau, 23 Mai 25 (ANG) - A Human Rights Watch
(HRW) alertou esta sexta-feira que os Wazalendo ("patriotas" em
swahili), que apoiam o exército da República Democrática do Congo (RDCongo)
contra o Movimento 23 de Março (M23) no leste do país, cometeram graves abusos
contra civis.
Os Wazalendo cometeram assassínios,
espancamentos e extorsões, disse a organização, sublinhando que não é claro o
controlo que as Forças Armadas da RD Congo (FARDC) têm sobre estes grupos, disse
a organização num comunicado.
Após a escalada de violência do M23 no início
do ano e a sua ocupação em janeiro da cidade de Goma, capital da província do
Kivu Norte, e em fevereiro de Bukavu, capital do Kivu Sul, os Wazalendo tomaram
o controlo de várias localidades deste último território.
Entre março e abril, os milicianos montaram
postos de controlo nas principais estradas da província e começaram a assediar
os residentes, cobrando taxas, de acordo com as autoridades locais.
A HRW citou um relatório recente do instituto
congolês Ebuteli, que concluiu que, apesar de os Wazalendo receberem material
militar do Governo, as milícias "vivem em grande parte à custa da
população" e extorquem-lhe dinheiro.
A ONG também documentou casos em que os
membros do grupo "espancaram e açoitaram" homens e mulheres que
acusaram de atos ilícitos, como roubo.
Muitos dos abusos da milícia são dirigidos
contra a comunidade Banyamulenge, um povo minoritário do leste da RDCongo com
uma língua e cultura semelhantes às dos ruandeses, que é frequentemente
considerado estrangeiro ou tutsi (o grupo visado nos massacres do genocídio
ruandês de 1994) por outros grupos étnicos congoleses.
O M23 - constituído maioritariamente por
tutsis - e o Governo ruandês, que o apoia, têm utilizado estes episódios de
violência para justificar a ofensiva.
A HRW documenta casos como o de um homem de
25 anos que morreu depois de ter sido baleado na anca por membros do Wazalendo,
que o acusaram de ser ruandês, em meados de fevereiro.
"Disseram que não éramos congoleses e
que éramos ruandeses. Disseram que eu tinha vindo para a cidade de Bibokoboko
para 'limpar' os Banyamulenges. Mataram sete pessoas e destruíram casas,
centros de saúde e escolas", disse um líder comunitário sobre outro ataque
no início de março.
"O exército congolês arrisca-se a ser
cúmplice de abusos ao apoiar as milícias 'Wazalendo'", a quem tem
continuado a fornecer armas, munições e apoio financeiro, alertou Clémentine de
Montjoye, investigadora sénior da HRW em África.
As perspetivas de uma solução negociada para
o conflito foram reavivadas em 25 de abril, quando o Ruanda e a RDCongo
assinaram em Washington um acordo mediado pelos EUA para iniciar negociações de
paz.
Além disso, o Governo congolês e o M23
retomaram as conversações de paz em Doha, no início de maio, sob os auspícios
do Qatar.
A atividade armada do M23 recomeçou no Kivu
do Norte em novembro de 2021, com ataques relâmpagos contra o exército
congolês.
O leste da RDCongo está mergulhado em conflitos desde 1998, alimentados por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de paz das Nações Unidas (Monusco).ANG/Lusa

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