França/Diretora da UNESCO lamenta "profundamente" saída dos EUA da organização
Bissau, 22 Jul 25 (ANG) - A diretora-geral da
UNESCO, a francesa Audrey Azoulay, lamentou profundamente a decisão do
Presidente norte-americano, Donald Trump, de retirar o seu país da organização,
mas garantiu que estavam preparados para isto, inclusive em termos orçamentais.
“Embora lamentável, este anúncio era revisível e a
UNESCO preparou-se para ele”, disse Azoulay em comunicado
após a decisão norte-americana, anunciada por um porta-voz do Departamento de
Estado de Washington.
A Agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), com sede em Paris, explicou que a contribuição dos
Estados Unidos representa 22% do seu orçamento regular, mas apenas 8% do seu
orçamento total, que é sustentado, para além das contribuições
obrigatórias dos membros, por contribuições voluntárias de países, organizações
sociais e doadores.
Estes
contributos duplicaram desde 2018, o que significa que a agência está
"protegida" e "não está a considerar despedimentos", indicou o
diretor-geral, uma vez que a situação é menos dramática do que para outras
entidades da ONU mais dependentes de Washington.
A ausência de contribuições dos EUA não impediu grandes projetos
como a reconstrução da cidade antiga de Mossul (Iraque), iniciada em 2018.
Em relação aos argumentos dos Estados Unidos, que justifiquem
esta medida, o Departamento de Estado
indicou que “não é do interesse nacional”, dado que a UNESCO promove”causas
sociais e culturais divisórias”,notícia a agência noticiosa espanhola Efe.
Os
norte-americanos citaram especificamente a natureza "globalista" e
"ideológica" dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e
reiteraram também a sua oposição ao estatuto da Palestina, que foi admitida
como membro em 2011.
A entrada da Palestina levou o Governo norte-americano, então
liderado pelo Presidente Barack Obama, a congelar as suas contribuições para a
UNESCO, e depois Trump finalizou a retirada em 2017 (embora só entrasse em
vigor no ano seguinte) em protesto contra as alegadas tendências
anti-israelitas da organização e citando também a necessidade de reformas.
Em 2023, quando os Estados Unidos regressaram como membro de
pleno direito por iniciativa do Presidente Joe Biden, fizeram-no com um plano
de liquidar gradualmente os pagamentos pendentes do período de 2011 a 2018, que
totalizaram 619 milhões de dólares.
As razões para a retirada, "são as mesmas de há sete
anos", referiu hoje Azoulay, apesar de a situação dentro da organização
"ter mudado profundamente" desde então.
Sobretudo porque as decisões são atualmente tomadas por consenso
- incluindo em relação a Israel e à Palestina - para evitar atritos e acusações
de politização.
Segundo fontes da organização, esta é, de facto, uma
"decisão política bastante pessoal" sobre a qual a agência não tinha
falsas esperanças, especialmente tendo em conta que o regresso em
2023 tinha sido uma iniciativa pessoal do Presidente Biden.
A
situação atual da organização também não foi sujeita a uma revisão completa, de acordo com as
mesmas fontes, que não atribuem o momento do anúncio a nenhum fator específico,
notícia a Efe.
A UNESCO enfatizou ainda que a posição da administração Trump contradiz valores chave como o combate ao antissemitismo e a educação sobre o Holocausto, duas áreas que fazem parte do mandato da UNESCO.
O seu trabalho nestas áreas, recordou a diretora-geral, é
aplaudido por importantes organizações internacionais e norte-americanas que
lutam contra o antissemitismo e preservam a memória judaica, como o Congresso
Judaico Mundial e a sua secção norte-americana, e o Museu Memorial do
Holocausto dos Estados Unidos, em Washington.
"A
UNESCO continuará a cumprir estas missões, apesar da inevitável redução de
recursos", prometeu Azoulay, referindo que a missão da agência é acolher
todas as nações e que os Estados Unidos "são e serão sempre
bem-vindos".
Azoulay fez ainda questão de referir os sítios monumentais
indicados para o estatuto de Património Mundial e outros reconhecimentos, pois
"podem ser os primeiros a sofrer as consequências" desta decisão
"contrária aos princípios do multilateralismo".
Esta é a terceira vez que os Estados Unidos se retiram da
UNESCO, organização da qual foram um dos membros fundadores em 1945 e um dos
primeiros signatários da sua constituição, que entrou em vigor a 4 de novembro.
A primeira retirada, além das duas de Trump, ocorreu em 1984, na
administração do Presidente Ronald Reagan, em protesto contra o que considerou
ser má gestão económica e "politização" excessiva - no contexto da
Guerra Fria - quando contribuiu com um quarto do seu orçamento.
O país só regressou em outubro de 2003, durante a presidência de
George W. Bush. ANG/RFI

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