quarta-feira, 23 de julho de 2025

Mali/ONG denuncia abusos cometidos pelo exército maliano e aliado grupo Wagner contra comunidade fula

Bissau, 23 Jul 25 (ANG) - O exército maliano e o grupo paramilitar russo Wagner são acusados de terem cometido dezenas de execuções sumárias e desaparecimentos forçados de homens da etnia fula.

Soldados malianos e combatentes da Wagner têm acusado a comunidade fula de colaborar com grupos armados islâmicos, alerta a organização Human Rights Watch, num relatório publicado a 22 de Julho. 

Desde Janeiro de 2025, as forças armadas do Mali e o seu aliado, o grupo Wagner, apoiado pela Rússia, terão executado 12 homens da etnia fula e levado ao desaparecimento de pelo menos outros 81 homens da mesma etnia, que acusam de colaborar com grupos terroristas, de acordo com a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW).

Estas exacções decorreram no quadro de operações de contra-insurreição contra grupos armados islâmicos, que visam particularmente o Grupo de apoio ao Islão e aos Muçulmanos (JNIM, na sigla em inglês), um grupo ligado à Al-Qaeda.  

A ONG aponta que o exército maliano e os combatentes do grupo Wagner têm acusado a comunidade fula de colaborar com estes grupos armados islâmicos que lutam para tomar o controlo de certas partes do país.

Testemunhos relataram à HRW terem presenciado vários tipos de abusos por parte dos combatentes russos e das forças malianas, que procedem há três anos a operações conjuntas contra os grupos armados islâmicos da região. 

Entre Fevereiro e Maio de 2025, a HRW realizou entrevistas telefónicas com 29 pessoas a par dos incidentes, dos quais 16 testemunhos, sete chefes de comunidade, activistas e jornalistas. Em Junho, a organização enviou uma carta com as conclusões do seu inquérito ao ministério da Justiça e da Defesa do Mali, sem nunca ter obtido resposta.  

"A junta militar maliana deveria acabar com os abusos e revelar onde se encontram as pessoas detidas, abrir investigações e levar os responsáveis à justiça", apela no comunicado a responsável da ONG para a região do Sahel, Ilaria Allegrozzi. 

A ONG considera ainda que a União Africana tem um papel a desempenhar nesta situação. A instituição deveria, de acordo com a HRW, "aumentar esforços no Mali para ajudar a proteger os civis dos abusos cometidos por todas as partes em conflito", apoiando a realização de investigações e fazendo pressão no sentido de haver condenações equitativas. 

Como recorda a HRW, os grupos armados islâmicos, implicados em vários tipos de abusos, concentraram durante muito tempo os seus esforços de recrutamento entre a comunidade fula, tradicionalmente nómada e assente na criação de gado. Por outro lado, recai sobre esta comunidade uma série de estigmas, em todo o continente, relacionados com os conflitos existentes com outros grupos étnicos, nomeadamente sedentários, devido à escassez dos recursos naturais.  

A HRW alega que os sucessivos governos malianos procederam a amálgamas entre a comunidade fula e os combatentes islâmicos, "colocando os Fula numa situação de perigo". 

As Nações Unidas confirmaram informações segundo as quais, em Abril, o exército do Mali e os combatentes da Wagner executaram 65 criadores e vendedores de gado da comunidade fula da aldeia de Sebabougou, depois de os ter reunido e conduzido rumo a uma base do exército.  

O grupo Wagner anunciou a sua retirada do Mali a 6 de Junho, alegando ter "cumprido a sua missão", que consistia na luta contra o terrorismo islâmico na região.

Fontes governamentais dos serviços de diplomacia e segurança, citados na imprensa internacional, afirmaram que os combatentes do grupo Wagner seriam substituídos pela Africa Corps, um grupo paramilitar sob controlo directo do governo russo, criado depois da morte do fundador da Wagner, Evgueni Prigojine, em 2023.   ANG/RFI

 

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