Moçambique/ "Uma mulher é assassinada a cada dois dias" - sociedade civil
Bissau, 19 Set 25 (ANG) - O Observatório das Mulheres
lançou nesta sexta-feira na Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo
Mondlane, em Maputo, um ciclo de reflexões sobre a eficácia e as lacunas da
resposta à violência com base no género, numa altura em que o fenómeno tem
vindo a ganhar maiores dimensões a nível nacional.
“Entre casos mediatizados e
assassinatos de mulheres de 1 de Janeiro a 11 de Setembro, registaram-se 43 casos
de mulheres assassinadas e mais 42 casos de violação sexual e é importante
referir que estes são apenas os casos mediatizados de assassinatos. Dados da
Procuradoria-Geral da República em relação ao ano 2024 mostram-nos uma
estatística de uma mulher assassinada a cada dois dias", começa por esclarecer a activista moçambicana.
"Tivemos um caso de maior dimensão em Maputo-província, de Sofala,
mas também temos muitos casos que foram levantados ao nível de Gaza, temos
muitos casos agora documentados ao nível de Milange, temos ao nível de
Nhamatanda, temos ao nível de Lichinga, está haver um recrudescimento de casos,
estamos a ter casos ao nível de Cabo Delgado que também são bastante sensíveis,
casos mediatizados de assassinatos de mulheres", detalha Quitéria
Guirengane.
"Este cenário de impunidade é, sem dúvidas, uma das causas que
contribui. A outra causa que nós levantamos hipoteticamente é que nós
noticiamos o assassinato, mas há pouca resposta do judiciário para publicar as
sentenças e a punição de forma a desencorajar a prática. Então, há uma ideia de
que todos os dias há um caso mas nunca se fala da sentença, nunca se fala de
quem foi punido. Então o crime compensa. Para nós, esta ideia de levar ao nível
nacional um estudo mas também um diálogo é justamente para trazer estas
vozes", refere a representante
da sociedade civil.
Igual preocupação foi expressada pelo Governo Moçambicano que ao
qualificar o fenómeno de "afronta à humanidade", apelou
ontem à sociedade para se juntar à luta contra o feminicídio.
De referir que num âmbito mais geral, dados oficiais indicam que
Moçambique registou mais de 9 mil casos de violência baseada no género e 4 mil
casos de violência doméstica no primeiro semestre deste ano. Durante o ano
passado, segundo dados divulgados pelo governo no passado mês de Março,
Moçambique registou mais de 20 mil casos, maioritariamente casos de violência
doméstica contra mulheres.
Uma situação perante a qual o executivo de Moçambique anunciou
recentemente que vai apresentar a violência contra mulheres e raparigas, bem
como a luta contra a pobreza, como prioridades nacionais na Assembleia Geral da
ONU.ANG/RFI

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