Brasil/Mais de 60 mortos
e 80 detidos na "maior operação" no Rio de Janeiro
Bissau, 29 out 25(ANG) - Pelo menos 64 pessoas morreram e outras 81 foram detidas, na terça-feira, na sequência de uma megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro, que já foi considerada como a mais letal da história da capital fluminense.
A ação, que decorreu nos complexos do Alemão e da Penha, teve como objetivo travar o avanço territorial da organização criminosa Comando Vermelho que, como represália, bloqueou a cidade. Mas, afinal, o que se sabe? Dois polícias civis e dois polícias militares
morreram durante os confrontos, nos quais os membros da organização criminosa
utilizaram várias armas de fogo de alto calibre e até drones com bombas.
Entre os suspeitos
mortos encontra-se um dos principais líderes da fação, ao passo que vários
cabecilhas foram detidos. Há ainda três civis que também foram atingidos.
Além das vítimas e
das detenções, os 2.500 agentes mobilizados apreenderam 93 espingardas e
"enormes" quantidades de droga, naquela que foi descrita pelo
governador da região, Cláudio Castro, como "a maior operação das forças de segurança do Rio de
Janeiro". A
ação estava, de acordo com o responsável, integrada na Operação Contenção - uma
iniciativa permanente do governo local contra o Comando Vermelho.
"Esta operação
teve início com o cumprimento de [100] mandados judiciais e uma investigação de
mais de um ano, [com planeamento] feito há mais de 60 dias", disse, citado
pela BBC Brasil.
Como represália, os criminosos barricaram vários locais da zona Norte da
capital do estado,
nomeadamente a Avenida Brasil, a Linha Vermelha e a Cidade de Deus, com recurso
a pelo menos 50 autocarros e a carros roubados.
Um grupo chegou
mesmo a bloquear, com um camião, a principal via de acesso ao aeroporto
internacional do Rio de Janeiro, o que provocou atrasos entre os passageiros.
Contudo, o terminal permaneceu aberto.
Já as
universidades, incluindo a prestigiada Universidade Federal do Rio de Janeiro,
e várias escolas públicas e privadas encerraram portas e mandaram os alunos
para casa.
Perante a situação
caótica, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro declarou o nível 2 de risco, numa
escala que vai até 5.
O governador do Rio
de Janeiro criticou a falta de apoio do governo federal, tendo dado conta de
que fez três pedidos para que as Forças Armadas prestassem auxílio nas
operações policiais. Contudo, o ministro brasileiro da Justiça e Segurança
Pública, Ricardo Lewandowski, assegurou que não recebeu "nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro (...) para esta operação, nem ontem, nem hoje,
absolutamente nada".
"As forças
federais não são forças coadjuvantes das polícias militares e das polícias
civis, nós auxiliámos o Rio de Janeiro no que pudemos", frisou,
salientando que, quando Cláudio Castro solicitou a transferência de líderes das
fações criminosas para as penitenciárias federais de segurança máxima, esse
pedido "foi atendido".
O ministro da
Justiça e Segurança Pública considerou ainda que a operação foi "bastante
sangrenta", o que, na sua ótica, "é de se lamentar".
"Estou aqui à
distância, tenho acompanhado pelos jornais. Foi uma operação bastante
sangrenta, segundo as notícias... Lamentavelmente, morreram agentes de
segurança pública e, pior ainda, pessoas comuns, inocentes. É de se
lamentar", disse.
O responsável
enfatizou, nessa linha, que "o combate à criminalidade, seja ela comum ou
organizada, faz-se com planeamento, inteligência, e coordenação das forças de
segurança".
O Ministério
Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) pediram, ainda na
terça-feira, explicações sobre a ação, tendo em conta as vítimas que provocou.
Cláudio Castro terá, assim, de demonstrar que não havia "meios menos
gravosos" de atingir os seus objetivos, bem como explanar
"detalhadamente de que forma o direito à segurança pública foi promovido,
indicando as finalidades da operação [e] os custos envolvidos".
O governador terá
também de mostrar que cumpriu o determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
na ADPF 635, um plano de redução da letalidade policial no Rio de Janeiro.
Cláudio Castro deverá comprovar que seguiu as medidas contempladas, entre elas
o uso de câmaras corporais por parte das forças de segurança, a apresentação de
um mandato formal para a operação e a presença de ambulâncias nos locais
visados.
Recorde-se que o
Comando Vermelho dedica-se maioritariamente ao tráfico de droga e de armas,
tendo o seu centro de operações no estado do Rio de Janeiro, onde controla
algumas comunidades da cidade. Ainda assim, está presente em grande parte do
país, especialmente na região da Amazónia.
A organização
existe desde a década de 1980, altura em que a ditadura militar concentrou nas
mesmas prisões delinquentes e membros de grupos de guerrilha com formação
política e militar.ANG/Lusa

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