Moçambique/Juristas pedem "proteção especial" face a intimidações
Bissau, 27 Out 25 (ANG) - A associação de juristas moçambicanos denunciou hoje intimidações aos magistrados judiciais e do Ministério Público (MP), pedindo ao Governo "proteção especial" na garantia da segurança a estes profissionais.
"Temos juízes e procuradores que são intimidados na sua atividade. Alguma intimidação nem é física, é por outros meios de coação moral, e isso tem que acabar, porque quando aqueles que têm que aplicar a lei não estão devidamente livres para o fazer, naturalmente que isso agrava os problemas de segurança", disse o presidente do Conselho de Direção da Associação Nacional de Juristas Moçambicanos (Anjur), José Caldeira.
O responsável falava em Maputo, à
margem da Conferência Nacional da Anjur, que decorre sob lema "Construindo
um futuro de justiça, inovação e desenvolvimento inclusivo", em que
admitiu que as intimidações a juristas continuam, mas que o papel deste
coletivo para travar a insegurança "é limitado".
"O nosso papel é no sentido de também consciencializar o Governo para
dar uma proteção especial a esses agentes, porque sem um sistema de justiça
forte nenhum país funciona, a economia não funciona, nenhuma área
funciona", disse Caldeira, pedindo medidas concretas para proteger
juristas.
"Fazemos apelos ao Governo, sabemos que a situação de insegurança não
ajuda, nem para os advogados, nem para os juízes, nem para os procuradores para
tomarem decisões, algumas delas mais pacificamente, com mais tranquilidade. Mas
é o país que temos e o que temos que fazer é continuar sempre a lutar,
continuar no sentido de que não podemos estar intimidados", acrescentou o
presidente daquela associação.
A Anjur é uma organização que reúne jurista das diversas áreas, com
destaque para juízes, procuradores e advogados, e que se dedica à promoção de
debates, estudos e formações contínuas no setor.
Em junho, a Associação Moçambicana dos Juízes (AMJ) prometeu submeter ao
Governo uma anteproposta de lei sobre a independência financeira do judiciário,
uma questão levantada há anos pela classe em Moçambique.
Em agosto do ano passado, a AMJ chegou a convocar uma greve da classe - que
depois foi suspensa - para exigir melhorias de trabalho e independência
financeira, duas questões levantadas também pela Associação Moçambicana dos
Magistrados do Ministério Público (AMMMP).
No caderno reivindicativo submetido naquele ano ao Governo, os magistrados
exigiam independência financeira, melhorias salariais e segurança para os
profissionais da classe e os juízes reclamavam de uma alegada "depreciação
do seu estatuto" e falhas de enquadramento na aplicação da Nova Tabela
Salarial (TSU), que foi alvo de forte contestação por parte de outras classes
profissionais, como médicos e professores, que chegaram a convocar greves em
protesto contra atrasos salariais e cortes.
Em agosto de 2024, o Governo abriu as linhas de diálogo para buscar soluções
para os problemas levantados, desatacando-se, segundo a AMJ,
"avanços" na reivindicação dos magistrados judiciais sobre a garantia
de segurança aos juízes, com o Governo a assegurar que polícias da Unidade de
Proteção de Altas Individualidades (UPAI) serão destacados para proteger
magistrados com processos judiciais complexos.
Na altura, o executivo não se comprometeu com datas para o cumprimento da
exigência legal de atribuição de uma arma de fogo a cada juiz, apontando a
entrega destes meios às Forças de Defesa e Segurança no combate ao terrorismo
na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, como um impedimento para a
satisfação dessa imposição. ANG/Lusa

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