quinta-feira, 20 de novembro de 2025

França/Emmanuel Macron quer virar a página e criar novas estratégias em África

Bissau, 20 Nov 25 (ANG) – O Presidente francês inicia um périplo de cinco dias
por Maurícias, África do Sul, Gabão e Angola, aproveitando a deslocação, cujo ponto alto é a cimeira do G20 em Joanesburgo, para “renovar” a relação entre França e África com parcerias mais equilibradas.

Em Angola, Emmanuel Macron vai participar na cimeira UE–UA, onde Paris aposta no corredor do Lobito e na cooperação energética e marítima para reforçar a sua presença económica e geopolítica.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, inicia esta quinta-feira, 20 de Novembro, um périplo de cinco dias no continente africano, passando pelas Maurícias, África do Sul, Gabão e Angola.

Para além da participar na cimeira do G20, em Joanesburgo, nos dias 22 e 23 de Novembro, o objectivo da viagem é “renovar” a relação entre a França e o continente, para promover um entendimento mais equilibrado e afastado das lógicas de ingerência que marcaram o passado.

Esta deslocação surge num momento sensível para Paris, depois dos reveses diplomáticos e militares sofridos no Sahel, traduzindo um esforço de reposicionamento estratégico em direcção a países não francófonos, numa tentativa de reconfigurar a presença francesa em África.

A primeira etapa decorre nas Maurícias, país que não recebia um Presidente francês há 32 anos. Para além do peso simbólico, esta visita pretende reforçar um relacionamento tradicionalmente próximo: Port Louis continua muito ligado à francofonia e é visto em Paris como um “vizinho” estratégico, pela proximidade com Mayotte e a Ilha Reunião.

Emmanuel Macron procura também compensar o desgaste diplomático sofrido na região, depois da queda do Presidente malgaxe Andry Rajoelina, considerado anteriormente um aliado de Paris. A visita vai ser marcada pela assinatura de acordos na área das energias renováveis, da gestão da água, da educação, da tecnologia e, sobretudo, da segurança marítima, essencial numa zona por onde circula uma parte significativa do comércio marítimo mundial e onde se intensifica o combate ao narcotráfico e à pesca ilegal.

O Presidente francês segue depois para a África do Sul. Antes do início da cimeira do G20, em Joanesburgo, Emmanuel Macron vai participar numa cerimónia memorial em Pretória e vai presidir ao lançamento de um conselho económico franco-sul-africano, para dinamizar investimentos bilaterais.

Esta etapa tem um peso diplomático numa= país cada vez mais influente no continente e no sistema multilateral, sendo também uma oportunidade para reforçar a cooperação económica com a segunda maior economia africana.

A terceira paragem é o Gabão, onde Emmanuel Macron efectua a sua primeira visita de Estado desde a chegada ao poder do general Brice Oligui Nguema, em 2023. Paris define o actual relacionamento com o Gabão como “excelente, renovado e virado para o futuro”.

 A cooperação militar, nomeadamente o papel do campo De Gaulle, uma das poucas bases francesas ainda permanentes em África, vai estar no centro das discussões.

A operação de diversificação económica gabonesa e o projecto de reabilitação do Transgabonês, apoiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento, vão ser alguns dos temas em destaque, numa lógica de apoio à estabilização política e à transição em curso no país.

Contudo, é em Angola que a digressão atinge o seu ponto mais estratégico. Sem passado colonial francês e dotado de recursos naturais, Angola tornou-se um parceiro de primeira linha na reorientação diplomática de Paris.

A sua posição como segundo maior produtor de petróleo de África, o crescente peso na mineração tornam o país cobiçado por actores como a China, os Estados Unidos, a União Europeia e o Brasil. Para a França, Angola representa a oportunidade de desenvolver uma relação menos marcada pelo passado e mais centrada em interesses económicos, energéticos e geopolíticos.

Luanda recebe a cimeira União Europeia–União Africana, momento decisivo para avaliar os progressos do programa europeu Global Gateway, lançado para financiar infra-estruturas africanas e equilibrar a influência chinesa no continente.

Neste contexto, destaca-se o projecto do corredor do Lobito, que vai ligar o porto angolano às regiões mineiras da República Democrática do Congo. Trata-se de uma rota essencial para o transporte de minerais críticos como o cobre e o cobalto, indispensáveis à transição energética europeia.

O corredor oferece também uma alternativa às vias dominadas pela China, ao mesmo tempo que promete estimular a industrialização local e reduzir a exportação de matérias-primas em bruto. As empresas francesas dos sectores ferroviário, energético e de engenharia acompanham o projecto com interesse.

A cooperação franco-angolana abrange ainda a segurança marítima no Golfo da Guiné, uma das zonas mais sensíveis do mundo no que respeita à pirataria e ao tráfico ilegal, e o sector energético, onde Angola procura diversificar-se para além do petróleo, investindo no gás, na energia solar e no hidrogénio verde. A França quer reforçar a sua presença nestas áreas, reforçando um diálogo que considera estruturante para o futuro da relação bilateral.ANG/RFI

 

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