Associação de peixeiras denuncia o “absurdo” do abastecimento de peixe via
Senegal
Bissau, 26 Out 15 (ANG) - A Associação das
peixeiras da Guiné-Bissau (Amupeixe) denunciou hoje o "absurdo" de
grande parte do pescado que é consumido actualmente no país vir do Senegal e
pede a intervenção do Governo.
A presidente da Amupeixe, Cadi Nanqui, disse ser "um
autêntico absurdo" que as suas associadas, mais de 100 mulheres, tenham de
se deslocar ao Senegal para adquirir o pescado que é vendido no mercado
guineense.
"Nós temos mar, peixe em abundância, mas nos últimos
oito meses não temos peixe que chegue, ao ponto de mandarmos comprar no
Senegal. É um autêntico absurdo", afirmou.
"Eles (os senegaleses) capturam o peixe aqui no
nosso mar, levam para o Senegal, vendem o da primeira qualidade para a sua
gente e a nós vendem-nos o peixe da segunda ou terceira qualidade",
denunciou outra peixeira, Mariama Djatá.
A Amupeixe costumava receber mensalmente do ministério
das Pescas 150 toneladas de pescado para distribuir pelas associadas, mas
segundo Eva Indjai os problemas de abastecimento começaram quando o arrastão
chinês Hiphen deixou de atracar no porto de Bissau.
O secretário de Estado das Pescas e Economia Marítima da
Guiné-Bissau, Idelfonso de Barros, considera justificada a preocupação das
peixeiras mas refere "um processo de mudança em curso" no sector que
obriga a que o Estado "deixe de vender directamente" o pescado
capturado, entregando essa tarefa aos privados.
Idelfonso de Barros disse à Lusa que o navio Hiphen deve
voltar a operar a partir de Novembro, com a promessa de descarregar cerca de
300 toneladas de pescado.
Em vez de entregar ao Estado e este vender às peixeiras,
o processo será de venda directa do arrastão aos membros da Amupeixe, adiantou
Idelfonso de Barros.
Quanto ao facto das peixeiras estarem a comprar o peixe
no Senegal, o governante guineense entende ser "uma saída possível"
encontrada para atenuar a falta de pescado, motivada em parte pelo facto da
pesca artesanal sofrer uma baixa nos períodos de Março a Setembro, quando os
pescadores trocam a faina pela apanha da castanha do caju, uma das principais
exportações da Guiné-Bissau.
Mata Nharia, outra vendedeira de peixe, disse que em mais
de 20 anos nunca viu tanta dificuldade como aquela que tem enfrentado nos
últimos meses e referiu que mesmo quando a Guiné-Bissau viveu um conflito
armado entre Junho de 1998 a Maio de 1999 não enfrentou tantas dificuldades no
seu negócio como agora.
Mariama Sanhá disse que quer "esperar para ver"
mas sempre vai avançando que o consumidor final é quem acaba por sentir mais a
situação na medida em que o preço do pescado "é forçosamente alto".
Angop
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