"As lutas pelo poder vai
continuar na Guiné-Bissau", afirma investigador alemão
Bissau,04
Abr 16(ANG) - Um investigador alemão considerou que a atual crise política na
Guiné-Bissau deve manter-se, já que "as lutas pelo poder vão
continuar", acrescentando que o Presidente guineense não tem contribuído
para a estabilização da situação no país.
"O
Presidente parece insatisfeito com o seu papel na política guineense porque ele
tem um posto meramente representativo mas quis ter mais influência na política.
O Presidente vai continuar a não contribuir para a estabilização da situação
porque, no fundo, foi ele que iniciou toda esta crise", referiu Christoph
Kohl, especialista em tópicos relativos à Guiné-Bissau.
Em
declarações à agência Lusa, o investigador da Fundação alemã de Estudos da Paz
e Mediação de Conflitos (Hessische Stiftung Friedens und Konfliktforschung)
disse "ser muito difícil ver uma saída deste impasse", mas aplaudiu o
contributo da diplomacia internacional para a estabilização da crise na
Guiné-Bissau.
"Os
fatores de instabilidade estão lá, mas há uma forte pressão de vários lados
para escolher uma resolução pacífica e democrática. A comunidade internacional
pressionou o Governo guineense e atores políticos para escolherem caminhos
pacíficos", referiu.
Delegações
do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), da União Africana, da União
Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) e da Comunidade Económica
para o Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) visitaram
Bissau para acompanharem a crise política que se vive no país.
O
académico frisou também que a sociedade civil guineense tem um papel fundamental na atual conjuntura
"porque tem procurado um caminho pacífico para a sua resolução", tal
como a população "que não está satisfeita com o modo governativo do
Presidente".
"A
população é capaz de falar das questões políticas de uma forma aberta, algo que não se vê em Angola, por exemplo.
Claro que existem muitas falhas nas administrações públicas, polícia,
militares, justiça, existe muita corrupção. Contudo, também vemos muitos atores
do Estado e fora dele a tentarem encontrar soluções para as falhas do
país", acrescentou.
Kohl
acrescentou que as marcas do colonialismo ainda estão presentes na Guiné-Bissau
e que se podem traduzir em abusos de poder e posturas autoritárias.
"Existem
muitas pessoas que ainda revelam uma atitude autocrática, que são
reminiscências da época do colonialismo. Mas é importante referir que durante o
colonialismo, Portugal vivia numa ditadura. Como podiam os guineenses aprender
sobre democracia, se Portugal vivia numa ditadura?", questionou o
académico.
A
Guiné-Bissau encontra-se numa crise política desde Agosto de 2015 quando o
Presidente, José Mário Vaz, destituiu o então Primeiro-ministro, Domingos
Simões Pereira, dando início a um confronto político com o PAIGC, partido do
Governo, afetando o funcionamento do Parlamento e de outras instituições do
país.
ANG/Lusa
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