Mianmar/Manifestantes desafiam
militares e protestam contra golpe de Estado
Bissau, 05 Fev 21 (ANG) - Mianmar
foi palco nesta sexta-feira (5) do maior protesto contra o golpe de Estado
militar que derrubou na segunda-feira (1°) o governo de Aung San Suu Kyi, que
está em prisão domiciliar em Naypyidaw.
Centenas de professores e
estudantes desafiaram os militares e se reuniram em frente de uma universidade
de Yangon, enquanto o Exército continua detendo líderes políticos e
ativistas birmaneses.
Os manifestantes fizeram a saudação com
três dedos da mão, um gesto de resistência utilizado por vários movimentos pró-democracia
asiáticos, como na Tailândia. Eles também cantaram uma música antiga que se
tornou popular durante a revolta de 1988, violentamente reprimida pelo exército
birmanês, e pediram "longa vida à mãe Suu" Kyi. A líder, presa em
casa, está em "boa saúde", segundo um porta-voz de seu partido,
a Liga Nacional para a Democracia.
"Enquanto os generais continuarem no
poder, não voltaremos ao trabalho. Se todo mundo resisitr, o sistema não vai
aguentar", declarou Win Win Maw, professor do departamento de História.
Funcionários públicos de vários
ministérios também cruzaram os braços temporariamente na capital Naypyidaw.
Todos ostentavam uma fita vermelha, cor do partido Liga Nacional para a
Democracia (LND), de San Suu Kyi.
Desde o golpe de Estado em Mianmar na
última segunda-feira, um movimento de desobediência civil começou no país. Os
birmaneses fazem panelaço e buzinaços todas as noites, às 20h. Algumas lojas
fecharam as portas e, na quarta-feira (3), os profissionais de saúde convocaram
uma greve por tempo indeterminado em várias cidades. Advogados e médicos
participaram de uma primeira manifestação, e vários manifestantes foram presos
em Mandalay.
Em Yangon, o movimento de desobediência
civil se intensifica no setor da saúde. Uma cirurgiã, entrevistada pela RFI,
que preferiu não ser identificada, disse que a greve atinge mais de cem
hospitais.
"Mais de mil médicos, enfermeiras e
profissionais da saúde que trabalham em mais de cem hospitais públicos
começaram uma campanha de desobediência civil aos militares. Alguns pararam de
trabalhar, outros vão continuar a atender os pacientes, mas não vão obedecer às
ordens do governo militar. Esse é apenas o início da campanha de desobediência
civil. Muitos estrangeiros estão querendo lançar um fundo de emergência para
ajudar os profissionais que cruzaram os braços. Este não é um conflito entre a
LND e o exército, é um conflito entre a vontade do povo e os militares",
declarou a médica birmanesa à jornalista Yelena Tomitch.
Apesar das reiteradas condenações
internacionais, os generais, que interromperam brutalmente a frágil transição
democrática no país, continuam a onda de repressão e detenções. Na madrugada
desta sexta-feira, eles prenderam Win Htein, de 79 anos, um político
veterano da LND, indicou o porta-voz do partido. Na quarta-feira, Htein, que
passou vinte anos na prisão entre 1989 e 2010, quando a junta militar comandava
o país, havia previsto que seria novamente detido, mas salientou que "não
estava preocupado, pois está acostumado à luta pacífica".
Min Htin Ko Ko Gyi, um cineasta que já
cumpriu pena de prisão por ter criticado o exército, também foi detido hoje,
segundo informações de um sobrinho.
Quatro dias depois da queda de Aung San
Suu Kyi, que está em prisão domiciliar na capital e foi indiciada por ter
violado uma regra comercial, mais de 150 líderes políticos e ativistas já foram
detidos no país, de acordo com dados da Associação de Assistência a
Prisioneiros Políticos, uma ONG baseada em Yango.
O presidente americano, Joe Biden, pediu
aos generais birmaneses, que derrubaram o governo da Nobel da Paz,
que "renunciassem ao poder" sem impor condições. Os Estados
Unidos estudam sanções contra alguns militares de Mianmar.
Já as Nações Unidas adotaram um tom mais
moderado com os golpistas. O Conselho de Segurança da ONU adotou uma declaração
comum notificando a "profunda preocupação" do órgão com a situação em
Mianmar e pedindo a libertação de todos os detidos. Mas o texto não condena o
golpe de Estado, devido à oposição da China e da Rússia a essa condenação.
Pequim continua sendo o principal apoio de
Mianmar nas Nações Unidas. Durante a crise de refugiados rohingyas, a
minoria muçulmana massacrada e expulsa do país, a China impediu todas a
iniciativas contra no Conselho de Segurança contra o exército birmanês e seu
chefe, Min Aung Hlaing, que agora concentra a maior parte do poder em Mianmar.
ANG/RFI/AFP
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