Ucrânia/ONU aprova comissão de inquérito sobre violações de direitos humanos
Bissau, 05 Mar 22 (ANG) - O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou sexta-feira, por esmagadora maioria, uma resolução a favor da criação de uma comissão internacional de inquérito sobre as possíveis violações dos direitos humanos na Ucrânia na sequência da invasão russa.
Após
a Assembleia-Geral das Nações Unidas ter apoiado amplamente, no início da
semana, uma resolução que deplorava a agressão russa contra a Ucrânia e exigia
a Moscovo que acabasse com a intervenção militar, a Rússia sofreu hoje mais uma
derrota no Conselho de Direitos Humanos.
A
resolução de hoje foi aprovada por 32 votos a favor, dois contra (Rússia e
Eritreia) e 13 abstenções, incluindo as da Venezuela, Cuba, China, Índia e
Paquistão.
A
votação aconteceu poucas horas depois de a maior central nuclear da Europa,
localizada no sul da Ucrânia, ter sido atingida por bombardeamentos do exército
russo, que causaram um incêndio, entretanto já extinto pelos bombeiros
ucranianos.
Esta
é a primeira vez na história do Conselho que uma resolução visa diretamente a
Rússia, de acordo com um porta-voz da ONU.
A
resolução condena "as violações e atentados aos direitos humanos
resultantes da agressão da Federação da Rússia" e pede "a retirada
rápida e verificável das tropas e grupos armados russos apoiados pela Rússia de
todo o território internacionalmente reconhecido da Ucrânia".
O
texto aprovado apela ainda à "criação urgente, por um período inicial de
um ano, de uma comissão internacional independente de inquérito", o mais
alto nível de inquérito do Conselho dos Direitos Humanos.
Os
membros da comissão serão responsáveis por "recolher, compilar e analisar
provas de (...) violações" dos direitos humanos e do direito internacional
humanitário resultantes da invasão russa à Ucrânia, com vista a julgamentos
futuros, e por identificar os responsáveis pelas violações "para que
respondam pelas suas ações".
A
invasão russa causou grande emoção no mundo. Multiplicaram-se as manifestações
antiguerra e os gestos de solidariedade para com os ucranianos, tendo em conta
os bombardeamentos e o êxodo da Ucrânia de cerca de 1,2 milhões de pessoas, segundo
os últimos números da ONU.
"Sabemos
quem são os criminosos de guerra e quem é o seu chefe supremo", disse a
embaixadora da Ucrânia na ONU em Genebra, Eugenia Filipenko, ao apresentar a
resolução, sublinhando que responsabilizar os responsáveis pelos abusos "é
a única forma de garantir que o mesmo não se repete noutros lugares do
mundo".
No
debate anterior à votação, que começou na quinta-feira, a Alta-Comissária das
Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, acusou a Rússia de
atacar alvos civis, incluindo escolas, hospitais e áreas residenciais, e causar
um êxodo de mais de dois milhões de pessoas, entre refugiados e deslocados
internos.
O
próximo passo será a nomeação de três peritos pelo presidente do Conselho
(atualmente o embaixador argentino junto da ONU em Genebra, Federico Villegas)
e apresentação dos primeiros resultados da sua investigação na 51ª sessão deste
órgão, prevista para o último trimestre deste ano.
Uma
das missões da comissão será "identificar, na medida do possível, os
indivíduos ou entidades responsáveis por violações de direitos humanos" na
Ucrânia, a fim de garantir que sejam responsabilizados.
As
investigações serão baseadas em entrevistas, depoimentos de vítimas, materiais
forenses e outros, como determina o texto da resolução aprovada que pede ainda
"acesso desimpedido à Ucrânia das agências humanitárias".
A
Rússia lançou na madrugada de 24 de Fevereiro uma ofensiva militar com três
frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades.
As
autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos,
incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de um
milhão de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros
países.
O
Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a "operação militar
especial" na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho,
afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a
ofensiva durará o tempo necessário.
O
ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União
Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de
armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda
mais Moscovo.ANG/Angop
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